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Raimundo Gregório Sobrinho

1930 - 2020

Um cearense de coragem, honestidade e alegria. Deixou gravado seu sorriso largo no coração de todos.

Seu Raimundo casou com sua amada Maria Francisca há sessenta e três anos e cruzaram esse mapa de norte a sul para uma vida nova.

Do Ceará ao Paraná, o casal firmou lar, reforçou seu amor e construiu a família, com 12 filhos, que lhe deram netos e bisnetos.

Agricultor, a roça foi seu maior sustento para levar alimento e suprir as necessidades da família, até chegar a idade de se aposentar.

Seu "Raimundo Cearense", como era conhecido na cidade, morava no bairro Jardim Primavera há quarenta anos. Sempre muito simpático, gostava de sentar todos os dias na área da frente de sua casa e ali ficava cumprimentando, com largo sorriso todos que passavam por sua porta. "Não tinha vizinho que não conhecesse", conta a filha Márcia.

E é ela quem, orgulhosa, diz mais sobre o pai: "o tenho como um exemplo de pai, sempre muito amoroso. Mas era também sistemático e gostava das coisas certas e do seu jeito. Não era homem de ter dívidas, não fazia seu estilo estar devendo a quem quer que fosse. Ensinou-nos a honestidade como lema."

A paixão de Seu Raimundo era ver a casa cheia com os filhos e netos... as deliciosas reuniões em família. Churrascos, festinhas, bastava estarem todos juntos, que ele estava com sua animação presente e sorridente. Ninguém conta um episódio em que ele estivesse cabisbaixo, desanimado.

Conta a filha que, nessas reuniões, o pai adorava tirar foto e fazer vídeos. E que tomar uma cervejinha em família também o deixava muito feliz, mas esse hábito foi deixado de lado depois que teve problemas na próstata.

Era divertido, mas teve uma criação antiga e as brincadeiras eram diferentes das nossas, mais contidas. Gostava muito de nos alegrar nas festas de família. E, nos seus aniversários, tinha uma frase que todos acabávamos "roubando". Ele dizia: 'quem chegar na minha idade é campeão! Porque 89 anos não são 89 dias!' Era tão "nossa" essa brincadeira, que quando fiz meus 41 anos, também brinquei dizendo 'não são 41 dias, como diz o pai'... Ahhh, saudades!", lamenta Márcia.

Um prato que deixava o Seu Raimundo satisfeito era pirão de carne ao molho. Mas pensando bem, qualquer comida na companhia de seus amores era bem-vinda e bem saboreada.

Sem deixar suas raízes de lado, gostava de um bom forró e apreciava ver os familiares dançando. Família junta, alegria, forró tocando, filhos e netos dançando e o sorriso lindo de Seu Raimundo... tem fotografia mais bonita?!

As palavras finais da caçula sobre o doce pai, são um misto de tristeza e emoção: "Meu pai partiu em onze dias, onde só tivemos boletins médicos e nenhum contato. Sem uma despedida. É muito triste, mas temos as melhores lembranças e muito amor pra guardar."

Raimundo nasceu em Jijoca (CE) e faleceu em Goioerê (PR), aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Raimundo, Márcia de Freitas Sobrinho. Este tributo foi apurado por Jonathan Querubina, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 13 de setembro de 2020.