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Raimundo Jorge dos Santos Gonçalves

1960 - 2021

Não poupava papel higiênico quando fantasiava a neta de múmia, era arteiro e feliz como as crianças.

Raimundo nasceu em Belém do Pará, ali cresceu e constituiu família. Ainda jovem, conheceu Isaura, uma bela jovem que morava próximo à sua casa, por quem era perdidamente apaixonado. Namoraram por pouco tempo, pois Deus os agraciou com a chegada de gêmeas. Casaram-se quando as filhas completaram um ano; dois anos se passaram e o caçulinha nasceu. A união durou 35 anos e Raimundo fazia de tudo para ver sua amada feliz. Marido dedicado, acordava às quatro horas da manhã e preparava um delicioso café para Isaura.

Assim como muitos brasileiros, Raimundo aprendeu o valor do trabalho muito jovem. Sua família era grande, ao todo, seus pais tiveram oito filhos. Os irmãos se davam bem, e quando os filhos de Raimundo nasceram, a relação familiar só melhorou, e os laços de afeto ficaram mais fortes. Com frequência incentivava os meninos a realizar seus sonhos e provia todo o suporte que eles precisavam para alcançar suas vitórias.

Também recebeu a bênção de ser avô de duas meninas, Nicole e Adria, e de vê-las crescer, estando sempre por perto perto. Para as pequenas, Raimundo reservava um tempo especial, brincava na piscina e sempre que possível transformava Nicole em Múmia - fazia questão de envolver a neta com papel higiênico. Ele era tão arteiro quanto elas. Nicole morava junto com o avô que era um pai e seu melhor amigo.

Raimundo formou-se em economia, mas escolheu como profissão entregar cartas e afins. Quando o mês de dezembro chegava ele começava a organizar a festa da criançada! Começava pelos convites, falava com as emissoras de televisão da cidade e com os demais servidores do Correio. Tudo precisava ser perfeito, as crianças de comunidades necessitadas deviam receber presentes no Natal e um abraço do Papai Noel oficial do Correio, papel que ele cumpria com esmero e amor.

As pessoas o chamavam de "católico fervoroso", pois carregava consigo uma fé genuína e resistente à toda tribulação e provação. Era muito presente na comunidade de fé, era catequista na Paróquia Jesus Bom Samaritano. Raimundo era um homem muito comunicativo, amigo e sempre tinha uma palavra de conforto a oferecer a quem precisasse. Quando o mês de outubro chegava, zeloso iniciava o Círio de Nazaré - ciclo de Novenas Marianas - onde os participantes meditam nas virtudes de Maria, que a ajudaram a enfrentar momentos de angústia.

Raimundo nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Raimundo, Desiree Negrao Goncalves da Conceição. Este tributo foi apurado por Denise Stefanoni, editado por Claiane Lamperth, revisado por Bettina Florenzano e Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 25 de julho de 2022.