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Raimundo Lourenço Simões

1966 - 2020

Colorado apaixonado pela família e cheio de fé. Só tomava banho gelado e não tinha celular.

Um colorado apaixonado pela família e cheio de fé. Só tomava banho gelado, não tinha celular e adorava programas de curiosidades.

Entender o que cada um precisava, dividir e acatar boas ideias, dar conselhos e tomar decisões. Em casa entre a família, ou no trabalho, Raimundo era um ótimo líder e se doava completamente às funções que assumiu como suas.

A primeira experiência como chefe de equipes foi em gincanas e brincadeiras que movimentavam Itajubá, no interior de Minas. Assim ficou conhecido na cidade. Depois, na fábrica onde trabalhou por dezoito anos, começou como segurança e chegou ao cargo de Coordenador Industrial por sua dedicação e esforço. Um reconhecimento dado também pelos colegas.

Em casa também era ele quem estava à frente de tudo e fazia o que podia para ver todos felizes. Demonstrava o amor nos pequenos gestos, como fazer o café da manhã para a esposa Simone e os filhos Sharon e Kauã, levar e buscar aonde fossem, ou organizar festas e churrascos. Também era ele quem resolvia tudo para os pais Antônio e Júlia. Vizinhos, o filho mais velho os visitava todos os dias e tornou-se o grande confidente do pai, com quem conversava sobre tudo. A saudade pousa na gratidão.

Porém, para falar com ele, só pessoalmente. Peu se dizia incomunicável. “Quando não estou, não estou”. Mas, ao mesmo tempo, era tão presente, que quase não fazia falta o aparelho. E se precisasse buscar os filhos, encontrar a mulher, ou dar uma carona para alguém? Marcava a hora, o local exato, e lá estaria ele, sem erro.

Fácil de agradar, fazia com a esposa o que ela quisesse ou gostasse. Não se importava se o programa era ficar em casa, ir para a igreja, bingos, restaurantes ou jantares. Desde que estivesse na companhia da amada, estaria feliz e satisfeito. E assim levaram a vida de casados por vinte e um anos.

Com a filha mais velha, falava sobre tudo, contava planos de negócios, dançava e imaginava como seria o sítio que queria construir. Eles concordavam em tudo e quando isso não acontecia, estranhavam. Interessado como era, não passava um dia sem perguntar à menina “como foi o dia?” e escutava atentamente. Foram grandes companheiros.

Já o programa de pais e filhos, era pescar. Junto ao pai Antônio e o filho Kauã, Raimundo adorava pegar um peixe ou outro. O programa, que habitualmente faziam no pesqueiro da cidade em que moravam, se expandiu para aventuras em outras águas. Jogos como truco e bilhar também não faltavam nunca. Atividades que já fazem muita falta.

Ele tinha gostos curiosos. A começar pelo time do coração: era torcedor fanático do Internacional, mesmo morando em Minas e sem nunca ter ido ao Rio Grande do Sul. A paixão, que passou para os filhos, um cunhado e um sobrinho, surgiu na infância. Ouvindo rádio, soube que o clube tinha as cores vermelho e branco, suas favoritas.

Um hábito inusitado era o de sempre tomar banho gelado, sem importar a temperatura lá fora, a hora do dia, ou os protestos da mulher, preocupada com um resfriado.

Na televisão, assistia a um pouco de tudo, e gostava muito de programas sobre histórias, curiosidades, pesquisa e ufologia. Procurava tudo sobre ETs, divagava sobre teorias e dizia que quando os humanos chegassem ao ponto alto da evolução, iriam viver nesse mundo que não conhecemos.

Ao mesmo tempo que divagava sobre uma outra vida, repetia para a filha: “a gente tem que ser bom, mas não pode ser muito bom, senão vai antes”. E ele foi mesmo bom demais para ficar aqui.

Raimundo nasceu em Itajubá (MG) e faleceu em Itajubá (MG), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Raimundo, Sharon Ingrid Mota Simões. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mariana Campolina Durães, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2020.