1948 - 2020
Ela soube enfrentar o inesperado com bravura e altivez.
Esta é uma carta aberta da filha Paula para sua mãe, Regina:
Mãe, como costumavas dizer, tivestes duas vidas: uma, antes da morte de nosso porto seguro - o marido, pai, sogro, avô; a outra, após a partida dele. Fostes uma mulher guerreira. Regina — que em latim quer dizer Rainha —, soberana de nossos corações.
Tivestes que aprender tudo porque o teu amor verdadeiro não permitia que tivesses trabalho, além de tuas jornadas profissionais. Que marido, hein?
Nossa vida realmente mudou. Pegou a todos nós de surpresa. Tudo era estranho. Perdemos nossa referência e não sabíamos o que seria de nossas vidas: eu, no Litoral Norte de São Paulo, com meu marido e filhos; tu, com a Claudia, em Santos.
Como seriam os natais que a vida inteira passamos juntos? E os aniversários que ele sempre preparava com tanto amor? O mercado, o conserto do carro, o cartão bancário que nem sabias usar. Mãe, fostes corajosa!
Largastes tudo e, junto com a Clau, viestes para São Sebastião; alugastes uma casa e ficamos juntinhas novamente, numa nova jornada. Mãe, nossa Musa Inspiradora!
Genuinamente atenciosa, preocupada conosco e sempre dedicada, tu eras como uma melodia, ao despertar em nossos corações apenas sentimentos bons. Era nossa garantia de tranquilidade e pensamentos positivos.
Um exemplo de mulher e mãe, que nos enchia de orgulho. Admirada por tantas pessoas, até hoje comentam tua bondade e delicadeza, que tanto chamavam a atenção.
Ficávamos hipnotizados pelo som de tua bela voz, ao entoar o hino do teu amor e do meu pai, "My love for you", de Johnny Mathis, enquanto tocavas o teclado. Encantadora e reconfortante, tu eras a nossa Regininha do Balacobaco. Lembra?
Católica muito devota e Ministra da Eucaristia, aprendemos muito contigo. Era gostoso te ouvir falar de Jesus, que foi o teu e o nosso conforto na perda repentina e inesperada do meu pai.
Tua prioridade éramos nós: tuas filhas, teu genro e teus netos, em especial o Bernardo, por causa de sua deficiência física, motora e mental severa. Era teu tesouro aqui na Terra. Não passavas um dia sem vê-lo. Que saudades!
Nasceu Emannuel, teu primeiro bisneto, e estamos apaixonados por ele. A vinda dele aconteceu no exato momento de profunda dor por tua partida.
Hoje, longe, em algum lugar do mais alto dos céus, sentimos teu olhar doce e sereno. Nossos corações pulsam de amor, o sentimento mais nobre. O elo, entre o céu e a Terra, entre tu e nós, conectado ao fio invisível de nossa alma, prevalecerá pela eternidade, até nosso último suspiro e nosso reencontro, na morada do PAI. Sentimos demais a tua ausência.
Não se preocupe mãezinha, cuidarei da Clau. Afinal, ela é o presente que tu e meu pai me deixaram, minha única irmã.
Obrigada mãe por nos dar tanto amor, por cuidar de nós, por nos ensinar os princípios da vida, e pela família que sempre fomos, o bem mais precioso que um ser humano pode ter. O que conforta nossa dor é saber que tu e meu pai estão juntinhos e olham por nós.
Mãe, nunca serás estatística, e sim amor, ternura, afeto. Te amaremos até o céu.
Regina nasceu em Santos (SP) e faleceu em São Sebastião (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Regina, Paula Cristina Sampaio Gato Cardim. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 27 de julho de 2021.