Sobre o Inumeráveis

Rejane Maria Moura Albuquerque

1966 - 2021

Com um empurrãozinho do destino, viveu uma linda história de amor.

Ela nasceu e foi criada na mesma casa, no bairro recifense do Cordeiro. Viveu uma infância feliz, cuidada e amada pelos pais, Seu Severino e Dona Neusa, e com a companhia da irmã, Josiane. Coincidentemente, a data de aniversário da mãe, 15 de maio, é também a comemoração do dia do Assistente Social, profissão escolhida por Rejane.

Foi a esposa dedicada de Valdemiro. A história de amor dos dois começou muito cedo, mesmo que eles tenham demorado um pouquinho a perceber. Parafraseando o poeta Cazuza, Valdemiro acredita que seus “destinos foram traçados na maternidade”. Rejane nasceu apenas quatro dias após o marido, no mesmo ano. Segundo ele, o Altíssimo sabia que ele não poderia ficar muito tempo sem ela e logo lhe enviou Rejane.

Ao acaso, por meio de uma foto antiga, descobriram que estudaram juntos em 1971, ambos então com cinco anos. Apesar de não guardarem lembranças dessa época, desde cedo o destino já os aproximava. Anos mais tarde, em 1979, foram colegas novamente no colegial. Dessa vez, vizinhos, faziam o trajeto de ida e volta à escola diariamente. Do bate papo nessas caminhadas nasceu uma forte amizade e a admiração mútua.

Pouco tempo depois, Rejane trocou de escola e eles perderam o contato. Cada um seguiu sua vida; mas, quis o destino que eles se reencontrassem na puberdade, já mais maduros, e que o namoro engrenasse, após o tradicional pedido de permissão de Valdemiro aos pais de Rejane. Em 1990, aos 24 anos, finalmente se casaram. Do casamento, que completou bodas de pérola em 2020, tiveram dois filhos, Victor e Clara e dois netos, Miguel e Theo.

A relação dela com os filhos foi de muito amor, cumplicidade e dedicação. Rejane era a mãe carinhosa, que não economizava em cuidados. Deixava as broncas e os puxões de orelha para o marido. "Vou chamar seu pai, que num instante resolve", costumava dizer quando precisava ser mais firme com os filhos.

Conviveu com o neto Miguel durante pouco tempo. Porém, a relação de amor entre os dois foi intensa. Perto dele, ficava “babona”, como diz o marido. Valdemiro espera que o menino guarde essas memórias e que possa transmitir ao irmão Theo, nascido após a partida de Rejane, as lembranças dessa avó tão amorosa.

O amor à vida que Rejane exalava fez com que todos os momentos vividos com ela fossem intensos e marcantes. Ficaram na memória da família as viagens, as festas, os encontros em família e com amigos; os momentos de admirar a natureza ou a lua cheia, os passeios na praia ou no parque, as noites de chuva no inverno e outras tantas ocasiões que, mesmo simples ou rotineiras, foram de muita felicidade na companhia dela.

Apreciava passar o tempo fazendo artesanato, nas suas mais diversas formas. Nas horas vagas, também gostava de ler livros. Preferia aqueles relacionados à sua profissão, pois queria estar sempre atualizada, mas também apreciava livros espíritas. Curiosamente, gostava muito de canetas — tanto de comprar quanto de ganhar modelos diferentes.

Uma das atividades preferidas com o marido era assistir a filmes, seguidos de uma boa conversa sobre a percepção de cada um a respeito da história. Gostava dos que traziam mensagens de amor e de esperança. Filmes leves, na maioria das vezes, mas também se permitia conhecer histórias tristes, como “O menino do pijama listrado”. Outra atividade que lhe dava prazer era desfrutar de um vinho em momentos românticos ao lado do marido.

O jeito cuidadoso e dedicado foi uma característica marcante de Rejane. Sua imensa vontade de ajudar ao próximo e o prazer que sentia em servir, e saber que fora útil a alguém, fez com que escolhesse a profissão de Assistente Social. Foi buscar o conhecimento para entender como implementar as melhores políticas públicas em benefício da população. E, com tanta vocação, Rejane foi uma profissional como poucas. "Ela respirava e vivia intensamente seu ofício", conta o marido. Ajudava a todos — pacientes, colegas, familiares dos pacientes — sempre com muito amor e devotamento. Especializada em Psicologia da Família, estava no ápice de sua profissão.

O marido lembra do olhar encantador da esposa e de seu rosto de menina, em que nem mesmo o tempo conseguia deixar sinais. Rejane era muito zelosa e cuidadosa com sua saúde. Acreditava que a vida é um ciclo e que a jornada de todos continua, em nova roupagem e missão. Sua passagem marcou todos aqueles que tiveram a oportunidade de conviver com ela. “Sinto-a agora como um anjo protetor”, conta o marido.

Como diz a música de Fagner, “um grande amor não se acaba assim, feito espumas ao vento”. Rejane, sempre presente!

Rejane nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo marido de Rejane, Valdemiro Bezerra de Albuquerque Filho. Este tributo foi apurado por Rafaella Moura Teixeira, editado por Marília Ohlson, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 4 de novembro de 2021.