1928 - 2021
Dona de uma risada inconfundível, acordava às cinco da manhã para tomar banho e se perfumar.
Na mesa da Dona Remédio sempre tinha espaço para mais um e para ouvir suas muitas histórias contadas por seguidas vezes e acompanhadas por inúmeras risadas. Conhecida por todos como Dona Nena, ela se orgulhava ao ser chamada de mãe, avó, sogra, madrinha, tia, amiga, vizinha — títulos carinhosamente conquistados ao longo dos seus 92 anos.
A neta Maitê conta que a avó era uma pessoa muito doce e amada. A casa vivia cheia, porque amigos e parentes sempre a visitavam. Dona Nena fazia questão de manter a casa sempre em ordem e ter uma mesa farta para as visitas que recebia. “Sua risada era marcante, não reclamava nunca, mesmo se tivesse motivos”, conta a neta.
O que Dona Remédio mais gostava era de ter a família por perto. Os sábados eram sempre em família, todos ao seu redor. Mãe de Magaly, Marilene e Aparecida, ela era a paixão dos netos Sérgio, Taiz, Guilherme, Luana, Maitê e Vitor; e dos bisnetos Beatriz e Rodrigo. Também era muito amada pelos genros Sérgio, Jaime e Rinaldo.
Católica, tinha prazer em benzer qualquer pessoa que aparecesse à sua porta, principalmente crianças. Maitê recorda que sempre aparecia alguém pedindo pra Dona Nena benzer, tirar o medo, curar erisipela, cobreiro e mais tantas outras enfermidades. Era com fé e devoção que ela entregava para Deus e sempre era atendida.
Amava ouvir a missa do Padre Marcelo Rossi pelo rádio, e sempre trazia um copo com água benta para quem estivesse por perto bebê-la. Guardava a imagem de Nossa Senhora Aparecida que pertencera à sua sogra; debaixo dela estavam os nomes de muitas pessoas que precisavam de oração. Pela manhã, rezava para as filhas e os netos à frente da foto de todos eles.
Maitê recorda que a avó, sempre muito devota, contava a história de que seu irmão, quando pequeno, fez o gesto de "banana" para a imagem de Jesus e chegou esbaforido, correndo, dizendo que Jesus desceu da cruz e correu atrás dele. Deste relato, sempre saiam boas gargalhadas.
Dona Nena amava flores e plantas, inclusive usava alecrim e arruda de sua horta para benzer. Sempre cheirosa e vaidosa, ela acordava lá pelas cinco da manhã para tomar seu banho, passar creme e perfume. Arrumava sua casinha e, mesmo com as limitações da idade, encontrava tempo para fazer uma arte.
Maitê conta também que a avó era teimosa — o que diz ser um reflexo de uma vida ativa e de entrega ao próximo —, e que sua risada era inconfundível: quando começava era difícil parar.
Remédio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 92 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Remédio, Maitê Grecco. Este texto foi apurado e escrito por Gabriel Rodrigues, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 29 de junho de 2022.