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Roberto Carlos Pina Figueiredo

1967 - 2021

Dotado de muita sabedoria, era quem os mais próximos sempre procuravam para receber bons conselhos.

Roberto tinha o dom de encantar pessoas através de suas particularidades: desde o modo de ser até o que se propunha a fazer, todas as suas ações eram conduzias por um toque todo especial, de forma que momentos simples do cotidiano transformavam-se em recordações que estão presentes na vida de quem conviveu com ele.

Inspirando-se na leveza com que levava a vida, o destino lhe preparou uma bonita surpresa: enquanto aguardava a realização de um concurso público, avistou de modo despretensioso Sueda, a mulher da sua vida, por quem rapidamente se apaixonou. Ela, por sua vez, também se fascinou por aquele homem de pele alva e olhos esverdeados, dono de um sorriso cuja ternura preenchia todo o ambiente. A partir dali, como em um encontro de almas, os dois conheceram-se, uniram-se e tornaram-se um só.

Durante os treze anos que permaneceram juntos, a relação deles foi marcada pela mais perfeita harmonia, nunca dormindo separados, nem sem dizer o quanto amavam um ao outro. O sentimento valoroso que uniu o casal desde o primeiro momento em que se conheceram demonstrou-se a prova viva de que o amor só faz conta de multiplicação: Roberto, que tinha uma filha de seu primeiro casamento, tornou-se também referencial paterno para os três filhos de Sueda, oriundos de um relacionamento anterior. Logo, os dois se transformaram em seis.

Certamente a família era o seu bem mais valioso, e ele dedicava-se ao máximo para ser o pai mais carinhoso e presente que os filhos poderiam ter. "Quando nossos filhos ainda eram crianças, passávamos as noites de sábado assistindo a filmes e comendo pipoca, ou brincando de jogos de tabuleiro. Já crescidos, Roberto se empenhou para que todos fizessem curso superior. Sua maior realização era ver a nossa família feliz", conta Sueda.

Alguns anos após o enlace, a vida (que amava presentear Roberto com boas-novas) preparou para o casal a bênção mais encantadora. Sueda relembra: "Nós sempre nos perguntávamos como seria a mistura de um filho nosso. Com qual dos dois se pareceria mais? Como seriam os olhos, o sorriso? Lembro-me perfeitamente quando ele, ao chegar do trabalho, passou pela janela da cozinha e reparou que eu saboreava algumas laranjas com sal. Voltou e ficou me fitando com uma risada marota. Então, me perguntou se eu estava grávida. Rapidamente eu disse que não, mas fizemos um teste e descobrimos que ele estava certo. Logo o questionamento foi respondido: Isabella, idêntica ao pai, veio fazer ainda mais cor, luz e alegria transbordarem de nosso lar".

Além da família, tinha duas outras grandes paixões: o Corinthians e um filé à parmegiana. Nos dias em que o Alvinegro Paulistano entrava em campo, todos sabiam que seriam noventa minutos de emoção e gritarias. Durante o jogo, ele aplaudia, vibrava e brigava com o time, o técnico e o juiz. Quando o aguardado gol saía, era uma explosão de alegria que ecoava por toda a casa. Quando não estava declarando amores à família e ao time do coração, Roberto também vivia dizendo que, se pudesse, comeria diariamente filé à parmegiana. A felicidade demonstrada ao degustar a iguaria era tão perceptível que a esposa preparava com capricho seu prato preferido em qualquer ocasião especial.

Havia ainda outra particularidade que rendia boas gargalhadas dos filhos: "Sempre que comprávamos lanches, ele tinha como ritual juntar todos os sachês que vinham de brinde em um pote. Depois, passava a mistura dos molhos em seu lanche para só depois comê-lo de garfo e faca. Volta e meia, quando lanchamos em casa, um de nossos filhos relembra com saudades desse hábito tão singular", recorda Sueda. A dedicação que nutria pela sua família era a mesma que dispunha em seu trabalho, tanto que era considerado uma referência na empresa onde atuava: inteligente e interessado em aprender cada vez mais, tornou-se, ao longo do tempo, um conselheiro para todos os setores da organização.

Nos momentos de lazer, passava horas sentado na varanda junto de sua amada, conversando sobre recordações do passado e planos futuros. Esses momentos foram apelidados carinhosamente por ele de "novelinha que se passava em sua cabeça". Gostava também de jogos de computador e, durante cada partida, sempre colocava fones de ouvido e cantarolava de um jeito tão irreverente que contagiava a todos. Nos churrascos em família, era sempre o dono da churrasqueira, tendo um modo todo especial de organizar as carnes antes de assar. Nessas ocasiões, fartava-se de pão com linguiça e vinagrete enquanto bebia sua cervejinha sem álcool ou seu refrigerante, já que não consumia bebidas alcoólicas.

Sua sabedoria era inspiração para o próximo. "Beto transformou a minha vida! Dividimos angústias e incertezas, mas também compartilhamos inúmeros sonhos, alegrias e aconchego. Há um pouco dele em cada momento vivido ao longo desses treze anos: nos ensinamentos sobre a importância da paciência e da fé; na observação das situações para só então falar e agir; nos incentivos para a realização de concursos públicos e no orgulho que demonstrou com a minha convocação. Ainda lembro de sua luta contra o tempo para que minha mãe fosse operada sem demora, garantindo-lhe a vida, e de quando demos o pontapé inicial para a construção de nossa casa. Meu marido se faz presente, principalmente, quando encontro o seu olhar terno e bondoso no rosto de nossa filha", recorda Sueda.

Sem dúvidas, Roberto cumpriu exemplarmente todos papéis desempenhados: foi o marido apaixonado que era abrigo e escuta; o pai dedicado que colecionou memórias e ensinamentos com os filhos; o avô encantado que se desmanchava em carinho e brincadeiras com a pequena Lívia; o profissional impecável a quem os colegas recorriam. Sua partida tão repentina deixou um profundo silêncio onde antes ecoavam gargalhadas e gritarias de alegria. Entretanto, o abraço acolhedor, o conselho sempre tão certeiro e tantos outros detalhes que o faziam tão especial tornaram-no eterno.

Assim como na letra de "One Day In Your Life", interpretada por Michael Jackson e uma de suas canções preferidas, Roberto será sempre, de alguma forma, lembrado por todos os seus amores e ficará no coração deles pelo sentimento que juntos costumavam dividir.

Roberto nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Álvares Machado (SP), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Roberto, Sueda Noeli Alcantud Figueiredo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Andressa Vieira, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 25 de março de 2022.