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Rogério Aparecido Siqueira

1973 - 2020

Amigo querido que faz muita falta, gostava de estar próximo e fazia de tudo para todos estarem bem.

“A amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir”, canta o grupo Fundo de Quintal na música “A amizade”.

Ninguém diria que havia apenas dez anos de amizade entre Luis Carlos e Roger. Luis Carlos é casado com a irmã de Rogério Aparecido Siqueira, comerciante na região da Vila Alpina, zona leste da capital paulista. Porém chamar a relação que havia entre os dois apenas de “cunhado” seria muito pequeno.

Roger, como era chamado, era do tipo que gostava muito de estar próximo. Toda sexta-feira ligava para Luis e o chamava para tomar uma cerveja. Ali, planejavam o que a família faria no fim de semana. Podia ser um churrasco, que Roger fazia questão de preparar para os amigos, apesar de ele mesmo não ser fã de carne. Ou acompanhar o jogo do Corinthians, time do coração dos dois amigos e que era capaz de mudar até a sua fisionomia tamanho era o nervosismo.

Roger não era apenas o amigo que queria as pessoas por perto, como quando fez questão de alugar um sobrado para a irmã e o cunhado no bairro onde vivia apenas para tê-los sempre junto de si. Roger era o amigo que queria por perto e bem, ainda que nos mínimos detalhes. Por exemplo, nunca deixava que Luis bebesse sem petiscar um salgado antes. Se tem uma coisa que ele não permitiria era ver o amigo passando mal.

Um dos últimos momentos dos dois amigos juntos foi justamente no bar aonde sempre iam. Segundo Luis, tiveram uma conversa longa e profunda. Roger falou que desejava ter mais oportunidades de levar o filho Thiago para passear, mas também que queria abrir um comércio para ele e o amigo tocarem juntos.

Luis esteve junto de Roger até os últimos momentos, quando foi internado em decorrência do novo coronavírus. Foi ele que empurrou sua cadeira de rodas no hospital. Foi nesse momento que Luis sentiu muita necessidade de fazer algo, mas não conseguiu: “Eu ouvia uma voz dentro de mim dizendo para eu falar que o amava”.

Roger faleceu no dia 13 de maio de 2020, na véspera do seu aniversário de 47 anos. Luis estava em sua casa trabalhando quando sentiu um aperto como se fosse um abraço: “Ele foi até a minha casa para se despedir”.

Para Luis, a amizade permanece eterna, “mudou apenas de endereço”. Fátima, irmã de Roger, e Eliana, também irmã de Roger e esposa de Luis, companheiras de todos os finais de semana, também sentem muito a sua falta. Como o Fundo de Quintal também canta: “Valeu por você existir, amigo”.

Rogério nasceu em São Caetano do Sul (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo cunhado de Rogério, Luis Carlos do Nascimento. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Cleberson Alcântara dos Santos, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 13 de janeiro de 2021.