1979 - 2021
O cantor de voz grave realizava seu sonho de infância voando pelo céu do Brasil.
Rogério, o Roger, como era carinhosamente chamado pelos amigos, foi um menino que desde sempre sonhou em ser piloto. Na infância encantava-se com as aeronaves, nos passeios que fazia com o pai, ao aeroporto. Foi às alturas por muitas vezes nas brincadeiras de criança, soltando pipa, e a velocidade que não era tanta no ar, era compensada em solo com as disputas de carrinho de rolimã, que ele mesmo fazia.
Seu ídolo não poderia deixar de ser o imortal Ayrton Senna! Acompanhava com devoção as corridas dominicais e tinha como tesouro um capacete autografado pelo piloto, peça que ele cuidava com muito zelo, só tirando do involucro para lustrar, como lembra a esposa. Depois da morte de Ayrton, a fórmula 1 não tinha mais a mesma graça. Para não esquecer as façanhas do tricampeão, costumava rever as corridas.
Rogério chamava atenção pelo seu porte físico, atlético e bem cuidado, mas não era só isso, não. Tinha uma voz, meu Deus! A voz era linda, cantava em um tom grave, que o fazia ser um intérprete admirável de canções como: Declaração de Amor (Daniel), New York, New York (Frank Sinatra), Sweet child o'mine (Guns), Dance monkey (Tones and I). Um de seus desejos era ser locutor ou apresentador de rádio e televisão e chegou até a fazer um curso voltado para este segmento.
Entre os anos 1998 e 1999 foi administrador de um badalado karaokê bar e se assumia um amante do Rock in roll, como gênero musical favorito. O que tinha de bom cantor, faltava para a dança. "Ele não era um bom dançarino, mas aprendeu alguns passos para dançar comigo. Eu às vezes o chamava de coisinha de Jesus, ao invés de Carlinhos, porque ele fingia que sabia dançar" lembra com humor a esposa Dulci.
Sua trajetória na aviação teve início em maio de 2001, quando enfim, o sonho de voar de verdade se realizou. Trabalhou em várias empresas de aviação: Varig, Gol, Incell e Azul. A última era onde estava exercendo a função de líder de equipe. Era supercompetente, e amava o emprego, pois dizia que aquilo não era trabalho, era um sonho concretizado. Ao longo dessa trajetória, de 2017 a 2019 ficou sem um emprego formal na aviação e decidiu, em 2018, tornar-se “piloto de carro de aplicativo”. Entusiasta em tudo que fazia, em 2019, para melhorar a experiência dos clientes trocou o Fiesta para um Fit luxuoso. “Roger era assim, queria dar sempre o melhor de si, e seus clientes eram especiais e mereciam o melhor” comenta a esposa. Fez tantas amizades como motorista de aplicativo que, mesmo depois de retornar à aviação na empresa Azul, continuava com esse trabalho.
Roger gostava de receber os amigos e parentes em casa, para um churrasco. Depois que bebia umas taças de vinho ficava muito engraçado, porque ele não aguentava beber muito, e sempre acabava dormindo no meio de uma música, ou de uma conversa. Era superengraçado! Todos riam alto e ele acordava dando uma desculpa de que tinha cochilado porque a música ou a conversa estavam chatas."
Um dos passatempos preferidos era imitar nossos amigos e alguns colegas de trabalho. Ele era fã dos Trapalhões e amava fazer gracinhas iguais." lembra a Dulci.
Roger teve a sorte de encontrar o amor em sua plenitude. Foi um filho muito amoroso para sua mãe, Erli, e um irmão atento e dedicado. Os pais se separaram e ele ganhou por parte do pai mais seis irmãos que ele não distinguia em afeto. Era muito generoso na distribuição de carinho e amor para os pais e irmãos.
O amor fez morada em seu coração para além dos vínculos familiares quando ele conheceu a Dulci, ou "filha", como carinhosamente a chamava. “Roger era um garoto super comunicativo e sorridente. "Me apaixonei à primeira vista. Nos tornamos bons amigos antes de namorarmos. Ele era lindo, de porte atlético, fiquei encantada. Era caloroso e intenso. Vivemos uma paixão ardente. Ele era tranquilo, não sentia ciúmes. Roger era muito carinhoso e, à noite, eu sempre adormecia em seus braços. Éramos apaixonados. Mesmo depois de 20 anos casados, namorávamos e beijávamos muito. Quando brigávamos, nunca dormíamos sem fazer as pazes. Sempre achamos que dormir com raiva era perda de tempo. Fui amada de uma forma tão intensa, que me sinto saciada. Ele me deu muito e eu tive muito mais do que pensei um dia”, declara-se a esposa.
Foram tantas viagens, aventuras, maratonas de filmes do Sylvester Stallone (que ele era fã, especialmente do Rocky), e acima de tudo muito amor e dedicação, a ponto de assumir as tarefas domésticas por conta de um problema de saúde da esposa, e fazia tudo sempre com leveza, amor e bom humor. Ele foi para ela um pai e ela para ele uma filha, a ponto de se chamarem assim. Acolhimento, amor e bom humor nunca faltaram e o dia 17 de julho, que era o dia deles, para sempre assim ficará. Dia da lembrança, da saudade e do cultivo do amor que não tem fim.
Rogério nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Brasília (DF), aos 41 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela esposa de Rogério, Dulciana Grangeiro. Este tributo foi apurado por Saory Miyakawa Morais, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 23 de julho de 2021.