1934 - 2020
Homem de muitos amores. Alegria e coragem foram suas melhores qualidades.
Desde pequeno, Sebastião sempre foi um grande aprendiz. Da infância à juventude, da mocidade à terceira idade, o principal ensinamento que a vida lhe transmitiu foi sobre o quão efêmeros e passageiros são os bons momentos e a existência humana.
Essa lição o ajudou muito a lidar com as despedidas forçadas que a vida lhe impôs. Com apenas 40 dias de vida, sofreu uma grande perda: sua mãe. Cresceu sob os cuidados da madrinha, a qual, com apenas 13 anos, o recebeu de coração aberto e fez questão de criá-lo da melhor forma possível com a ajuda de seus pais.
Com 22 anos casou-se com sua amada Alexandrina, com quem teve nove filhos. "Infelizmente, três deles faleceram. Matuzinho, com 40 dias de vida; Geraldo, aos 17 anos, e, por fim, meu pai perdeu minha irmã Maria José, vítima de um câncer no estômago aos 46 anos. Além dos filhos, perdeu também três netos", conta a filha Ângela.
As perdas que a vida lhe impôs já seriam motivos suficientes para que Sebastião perdesse o gosto pela vida e o brilho nos olhos. No entanto, para ele, passar por 17 cirurgias, sobreviver a um câncer de próstata e lidar com problemas no rim, trombose e pressão alta eram tarefas nada desafiadoras.
Difícil mesmo era impedi-lo de mostrar as cicatrizes com orgulho e, principalmente, de tirar sua alegria de viver. Venceu todas as adversidades com as quais se deparou, com muita força e fé, tornou-se evangélico e acreditava muito em Deus.
"Meu pai era uma pessoa muito divertida. Na juventude, adorava pular carnaval e dançar forró. Tinha muitos amigos e era admirado por toda a vizinhança."
Após enfrentar tantas batalhas com serenidade e um sorriso no rosto, Sebastião partiu sem a despedida que queria. Seu desejo era ser velado em casa. A família sabia até mesmo a roupa que Sebastião escolhera para o evento, seu terno vinho preferido. Segundo ele, seu velório seria um baita acontecimento, tão alegre quanto todos os dias de sua vida.
"E assim, meu pai se foi. Deu entrada para tratar a perna quebrada em um acidente doméstico e nos deixou para sempre".
Porém, Sebastião só partiu depois de fazer sua maior professora jurar, de dedinho, que ensinaria aos seus familiares e amigos a mesma lição que lhe dera ainda na infância: que tudo nessa vida é passageiro.
Sebastião nasceu em São João Evangelista (MG) e faleceu em Barueri (SP), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Sebastião, Angela Maria Salvador Braga Goveia. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Letícia Fortes, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2020.