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Semeão de Matos Siqueira

1951 - 2020

Devotou-se a Nossa Senhora de Nazaré e à grandeza de uma vida simples.

“Baixinho”, como era carinhosamente chamado, não era mesmo um homem alto. Mas isso nunca foi problema para ele. Era “muito querido por todos”, conta a filha Wanderlene. Nem sua teimosia diminuía a estima que lhe devotavam. Simpático, era dono de um “sorriso fácil”. “Foi bom filho, irmão, amigo, tio, marido, pai e avô”, completa a filha.

A devoção familiar a Nossa Senhora de Nazaré foi a grande responsável por uma mudança decisiva na vida de Semeão. Visitando, ainda criança, a capital paraense na grande festa do Círio, seus pais, de recursos bastante modestos, decidiram se fixar em Belém com os cinco filhos, deixando para sempre Muaná, na ilha de Marajó. Ele “nunca mais retornou para sua cidade natal”.

Quando alcançou a idade de trabalhar, atuou como autônomo e logo se tornou comerciante. Casou-se aos 26 anos com uma professora, Wanda, com quem teve três filhos: Wanderlene, Wanderson e Wagner. “Foram 42 anos de união, casado com sua única esposa”, ressalta a filha. Mais tarde viriam dois netos, “ambos nascidos e criados em sua companhia, embora se sentisse avô de coração de muitas outras crianças próximas da família”.

De hábitos simples, Semeão apreciava uma boa prosa com amigos e vizinhos. “Tanto que, para isso, tinha até cadeiras diante de sua pequena loja de material elétrico e hidráulico, na rua onde morava”, prossegue Wanderlene.

Era caprichoso e dado a gestos que traduziam delicadeza. “Amava cultivar plantas e arrumar o quintal.” Gostava tanto de farinha de mandioca que a “colocava em tudo que comia, até nas sobremesas”. Torcia pelo Paysandu.

Jamais abandonou, porém, a devoção a Nossa Senhora de Nazaré. “Tinha uma fé incrível nela e muitos planos para o futuro”, relata a filha. “Dias antes de ir para a emergência, sonhou com o Anjo da Guarda e o Espírito Santo, que lhe mostravam a situação de seus pulmões. De saída para o hospital, falou: ‘Seja o que Deus quiser’”.

Semeão nasceu em Muaná (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Semeão, Wanderlene Onória Alves Siqueira. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2020.