1994 - 2020
Ao som do pandeiro, tocou a vida como tenente, e se rendia com prazer ao amor pela família.
Sugestão de epitáfio: Honrou a patente policial, encantou a todos com seu pandeiro e consagrou seu amor maior à família.
Sérgio, fã de Zeca Pagodinho, gostava de levar a vida de maneira leve assim como o som do pandeiro, que aprendera a tocar treinando em um tijolo na infância. Sua mão ficava inchada ao treinar por muito tempo, mas não desistiu, assim como não desistiu de seu sonho de adolescente de se tornar Policial Militar, e se tornou um ótimo pandeirista e um estimado tenente.
Começou a estudar muito cedo para o concurso de policial e, com 20 anos, conquistou seu sonho e permaneceu trinta e cinco anos amando o que fazia.
Sempre muito sério e cauteloso, em decorrência dos perigos que sua profissão trazia, ele aparentava ter mais idade do que realmente tinha e desde a adolescência gostava de ter amigos mais velhos que ele.
Quando jovem, apreciava frequentar um barzinho em Jacarepaguá, perto de onde morava, junto com os amigos, e foi ali que começou a tocar pandeiro e gostar de samba e pagode. Fazia sucesso quando pegava o instrumento e mostrava seu talento.
"Ele tinha três grandes amigos que gostava muito de conversar (sempre mais velhos do que ele): o Arlindo, o Tozine e o Wildmilson, a quem ele apelidou carinhosamente de "Carijó", conta sua esposa Vânia. "Carijó", seu grande amigo, sempre lhe causava muitas gargalhadas, poucos amigos o faziam rir como ele.
Sua mãe teve seis filhos, e ela era a paixão da vida dele. Rotineiramente estava em contato com ela, procurando oferecer sempre o melhor; nunca deixou de demonstrar o seu amor pela família.
Sua avó materna gostava muito dele, o protegia e apoiava.
Sua família era financeiramente estável, mas desde muito novo queria conquistar sua independência financeira.
Ele ajudava o pai em sua oficina, o que lhe rendia uma mesada. Trabalhou como servente e até extraiu areia do rio, próximo de onde morava; então, passou no concurso de policial.
Ele e sua esposa tiveram dois filhos: Gabriela e Juninho. A educação de seus filhos foi algo que ele fazia questão de acompanhar de perto, incentivando-os sempre a buscarem uma posição melhor no mercado de trabalho. Seu sonho era que Gabriela seguisse seus passos, e prestasse concursos públicos e federais. "Gabriela prestou o último concurso da PRF e conseguiu passar. Se ele ainda estivesse aqui seria um grande orgulho", conta a esposa.
Organizava almoços em restaurantes para comemorar seu aniversário junto às famílias.
"Em 2019, uma semana antes do Natal, ele reuniu toda a família dele, irmãos, primos e tios e, em um salão de festas no condomínio do irmão, fez uma festa muito bonita. O objetivo era fazer isso todos os anos", recorda Vânia.
Sérgio era muito atencioso, respeitoso e íntegro com todos.
"Saía de madrugada para atender qualquer chamado das pessoas que amava. Se estava na rua e lhe pedissem ajuda, poderia ser estranho pra ele, mas ele sempre ajudava, financeiramente ou com indicação de emprego", a esposa comenta.
Quando era chamado para ser padrinho de alguma criança, assumia o compromisso com muita responsabilidade, e permanecia presente na vida de quem apadrinhava, sempre preocupado com o futuro.
"A última viagem que fizemos foi à casa de um amigo dele, o Arlindenor, que mora em Resende, divisa de São Paulo. Foi maravilhoso. Lá, ele se sentia bem porque era uma fazenda e não tinha o perigo da cidade. Não precisava andar armado, ficava descontraído, se sentia seguro e esbanjava toda a alegria que tinha guardada dentro dele", lembra a esposa.
Sérgio se recuperou frente a vários confrontos da profissão, sempre foi forte e deixou seu legado de combate, com imenso amor à família, gestos de superação e muito pagode.
Sem dúvidas, o som de seu pandeiro ressoará eternamente nos ouvidos daqueles que o amam.
Sérgio nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado sua esposa de Sérgio, Vânia Maria Machado. Este tributo foi apurado por Sonia Ferreira, editado por Aléxia Caroline, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 25 de junho de 2021.