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Sidrônio Pedro de Assunção

1966 - 2020

Torcedor super apaixonado do Santa Cruz, era um tremendo craque na arte do futebol e da celebração da vida.

Chamado carinhosamente de Dedé e também Dedinho, Sidrônio era calado e tímido. Justamente por ser assim na maior parte do tempo, acabava surpreendendo a todos quando em alguns momentos se revelava em tiradas espirituosas!

Como naquela vez em que combinou de almoçar com a irmã Sandra. Ela relembra o episódio com um sorriso no rosto: “Estava muito quente, um sol forte de rachar; eu estava toda feliz estreando um óculos de sol que tinha acabado de comprar. Dedé chegou, me cumprimentou com beijos e abraços, como sempre fazia. De repente me olhou e, do nada, soltou a dele, preciso no alvo: 'Mana, você está parecendo a Zira do Planeta dos Macacos'. Nossa, foi só risada! E eu nunca mais consegui usar aquele óculos sem me lembrar do Dedé e da cativante personagem do filme!”

Sandra conta que durante os 53 anos em que conviveu de pertinho com o irmão, nunca houve um só desafeto. “Ficávamos longos períodos sem nos encontrarmos pessoalmente, mas aproveitávamos a tecnologia a nosso favor, usávamos as redes sociais e também as chamadas telefônicas para nos mantermos sempre em contato! Desde criança, sempre fomos muito próximos!”, relata emocionada a irmã.

Dedé era um ótimo pai e também um amigo muito querido por todos e todas. Gostava muito de celebrar a vida. Adorava uma reunião e uma cervejinha bem gelada!

A quarentena foi pra ele um tremendo desafio justamente porque precisou se adaptar e mudar o seu jeito de viver! Com o isolamento social e a necessidade de ficar em casa, as celebrações e os encontros tão frequentes ficaram suspensos!

Numa tentativa de amenizar essa sensação de angústia e a saudade dos amigos e das amigas, Sandra conversava por telefone quase todas as noites com o irmão. Era uma espécie de ritual para acalmar o coração do Dedé. Numa dessas chamadas, ele confidenciou: “Sabe, mana querida, está muito difícil viver assim pra mim. Me sinto como um passarinho que de repente foi capturado e agora está preso numa gaiola”.

Torcedor super-mega-hiper apaixonado pelo seu time do coração – o Santa Cruz – era um craque da bola, um peladeiro de primeira qualidade! Muito habilidoso, as pessoas ficavam encantadas ao vê-lo jogar!

Dedé era o melhor amigo de Sandra, aquele irmão que como ela diz, qualquer um gostaria de ter! “Era apaixonado por futebol e ainda assim, encontrava um tempo para jogar vôlei comigo porque sempre foi meu grande companheiro e o seu coração gigante era maior que ele”, conta a irmã emocionada.

Quando crianças, a mãe não gostava que os filhos – dois meninos – e a filha, brincassem muito na rua. Mas Dedé, travesso e muito astuto, contornava a situação, sempre inventando novas brincadeiras.

Já que a mãe constantemente desaprovava as saídas, começaram a ficar craques em outro jogo: bolinha de gude! Desse modo, não importa o lugar, estavam sempre a brincar! Divertiam-se a valer e ainda evitavam arrumar encrenca com a mãe. Exceto uma vez... Em que Dedé se negou a brincar com Sandra e ela, pra fazer pirraça, engoliu a "Ferrança", bolinha de gude preferida dele! Foi um pandemônio daqueles! Toda a família desesperada gritando na recepção do hospital! A confusão só diminuiu quando o médico do pronto socorro indicou o tratamento e tranquilizou os corações: “podem se acalmar, não há com o que se preocupar, tudo será resolvido no próximo cocô da menina!”

Sandra se casou com alguém que o Dedé, desde o princípio, disse que seria um bom marido para ela. “E eu sempre dizia que o meu marido também era o melhor cunhado do Dedé, afinal ele não tinha lá muita escolha sendo eu a sua única irmã”, diverte-se Sandra.

“Sinto uma tremenda falta de sua presença tão singular; Dedé me ensinou a ser uma pessoa melhor e deixará muita saudade!”, conclui a irmã Sandra, com todo amor e gratidão.

Sidrônio nasceu em Recife (PE) e faleceu em Paulista (PE), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Sidrônio, Sandra Maria de Assunçao Andrade. Este tributo foi apurado por -, editado por Claudia Saviolo, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 8 de fevereiro de 2021.