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Suely Aparecida Coelho Lázaro

1954 - 2020

Seu quarto parecia de criança, todo cheio de enfeitinhos e bichos de pelúcia; era para combinar com sua alma pura.

"Minha mãe querida cheia de vida, alegre, divertida e muito trabalhadora, gostava de tomar leite com bolachas.", relembra a filha, Leila, com saudades.

Suely gostava muito de estar com a família; amava ficar com os netos. Gostava muito de trabalhar e ter sua independência. Também apreciava muito cozinhar e cuidar da casa. A filha a chamava de “doida das roupas” porque estava sempre lavando, passando, cuidando das roupas quando estava em casa. Não descansava. Muito cuidadosa com a organização de tudo relacionado ao lar, gostava de limpar, arrumar e colocar tudo no lugar.

Tinha mania de comprar e guardar coisas, dizia “um dia eu uso”. Gostava de comprar potes para a cozinha, roupa e sapato pra ela. Era apaixonada por comprar coisas para os netos, sempre dava um presentinho, uma lembrancinha, dizia que era de “Natal, Ano Novo, aniversário, tudo junto”. Era divertida e os netos hoje dizem como ela faz falta. Sempre fazia um bolo, um doce, ou levava em algum lugar para comerem um lanche. Gostava de levar os netos ao shopping. A filha morava em Iacanga e ela em Bauru, e sempre estavam se visitando. Suely tinha dois filhos: Leila e Luiz Miguel; e três netos: Ana Laura e Nicolas.

Ela era muito cheirosa. A filha a chamava de “Cremosa”. Muitas vezes depois de trabalhar muito ainda estava cheirosinha. “Mãe, você é muito cheirosa, está sempre perfumada”, dizia a filha. Outro hábito gracioso era o de colecionar enfeitinhos e ursinhos, parecia criança. No quarto dela tinha bichinho de pelúcia, quadro, porta-retrato, quadrinho, gostava muito de enfeites.

"Ela era bem engraçada. Quando ia a algum lugar ou a alguma loja, sempre puxava assunto com o vendedor. Quando estava com alguém e essa pessoa ia provar alguma roupa, ela pedia pra ir junto e dava opinião, gostava de dizer que a pessoa estava bonita. Era bem extrovertida. Gostava de participar de tudo.", conta Leila.

“Quando eu tive meu primeiro filho, ela me ajudou muito, sempre ficou ao nosso lado, até deu sua cama pra mim e meu marido dormirem”, diz a filha.

Suely tinha amigas, era carinhosa com elas, cuidava delas, e as ajudava no que precisassem. Com uma das amigas fazia pão. Era uma relação de união e muito afeto com essas companheiras de passeios, de hábitos em comum e também de longas conversas.

Trabalhava com afazeres domésticos e como cuidadora. Houve um tempo em que trabalhou para uma senhorinha e cuidava da casa como se fosse a dela. Era muito simpática e dedicada no trabalho, “muito dada com as pessoas”. Qualquer estresse que houvesse, ela só iria desabafar quando chegava em casa. Era divertida, gostava de falar bobagens, dar risada, ter amizade, de brincar com todo mundo.

Tinha o sonho de arrumar os dentes, colocar uns implantes, mas vivia dizendo que era muito caro. Era uma meta, ela começava a guardar dinheiro ou começava o tratamento e depois parava. Ela falava que “queria arrumar o sorriso”, dizia que queria fazer um sorriso novo.

Décio era o nome do seu marido. Viviam bem juntos, havia aquelas briguinhas bobas, a filha dizia “V!ocês estão parecendo crianças!” quando brigavam. Cozinhar era uma grande paixão de Suely, “tinha a mão boa pra cozinhar. A comida dela era bem gostosa, tinha bastante tempero, era bem caprichada. Ela fazia muito bem uma carne de panela, dobradinha, feijoada, pernil de porco. Ela fazia um pernil na panela que levava muito tempo cozinhando. Preparava também uma salada com bacalhau, batata, grão de bico, uma “saladona” que ficava muito boa na Páscoa. “Faz dois anos que eu já não sei mais o que que é isso”, diz a filha. Faz muita falta. “Ficou na lembrança, marcou”, diz a filha.

Ela não frequentava igreja mas sempre rezava em casa, era “bem temente a Deus”. Tinha muita fé.

“Eu a amava muito. Ela sempre foi muita inspiração, um exemplo, para todos nós. Eu acredito que ela descansou, ela tinha outras doenças. Mas é duro, não é fácil viver sem ela, como ela faz falta!. Todo mundo sempre lembra dela, não tem como esquecer”., despede-se com amor e gratidão a filha Leila.

Suely nasceu em Nogueira (SP) e faleceu em Bauru (SP), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Suely, Leila Miriam Lázaro crispum. Este tributo foi apurado por Míriam Ramalho, editado por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 25 de abril de 2022.