1964 - 2020
“Imagina se a gente pudesse morrer e reviver novamente como outra pessoa", disse ele. Deixou amigos e saudade.
Tadeu era órfão, viveu em instituições por toda a vida e não deixou parentes.
O depoimento a seguir foi construído pela equipe do CAPS onde Tadeu era acompanhado:
O Tadeu certamente irá deixar saudades!
É difícil escrever sobre essa perda, neste tempo em que está tudo mudado. Sua morte foi uma das primeiras notícias de que perderíamos muito com a pandemia. A sua partida deixa um vazio nos nossos dias.
Pessoa honesta, sensível e cheia de vida, deixou muitos amigos por aqui...
Sua presença inspirava carinho e vontade de estar perto. Muitos foram agraciados com o seu “boa tarde”, sem mesmo conhecê-lo.
Era um conhecedor das plantas desde a sua infância no Educandário Dom Duarte. Sempre presente nos mais variados espaços do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), cumprimentava todos e todas carinhosamente: "Ei, Campeão! Ei, Campeã!" Era o mestre dos tours para receber novas pessoas, sempre disponível para dar um passeio e apresentar os espaços do casarão.
Ensinava a fazer cumprimento de mão com coraçãozinho e, com a sua presença marcante, participava ano após ano das marchas da Luta Antimanicomial.
Tadeu marcou o grupo Arte e Criação com sua inteligência e percepção do mundo, era capaz de articular suas ideias potentes com doçura e irreverência. Sempre trazia boas sugestões, em especial, a insistência e a empolgação para trabalhar com argila. Tinha o sorriso fácil e criava modas particulares, como o corte de cabelo estilo "chapeuzinho". Por vezes, também vinha com um pente fincado em seu cabelo, que era sempre muito bem-cuidado. Esse também foi usado em suas criações artísticas: uma escultura de mulher que ficou fazendo e refazendo e só acabou quando ele colocou um chumaço do próprio cabelo em sua obra. Além da cerâmica, gostava de futebol, cinema e era o instrutor de xadrez oficial de seus amigos.
Diversos momentos estão marcados em nossa memória. Como a apresentação do grupo na Pinacoteca do Estado de São Paulo, quando Tadeu reivindicou publicamente que os museus tivessem mais arte de pessoas negras, como ele. Nesse mesmo dia, ele contou como havia sido rei, quando viveu na África em vidas passadas, e que desejava se tornar um dia presidente do Brasil. Como seria lindo ter um presidente como Tadeu! Sua doçura seria fundamental para passarmos por esse momento tão difícil.
Uma vez, no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), ele estava olhando para os quadros e comentou com todo o grupo: “Imagina se a gente pudesse morrer e reviver novamente como outra pessoa. A gente poderia ter sido um pintor e estar aqui nesse museu, frente a frente com um quadro nosso. Essas coisas que ficam eternamente e que vão sendo colocadas num museu, de repente poderiam encontrar o artista que as fez.”
Essa memória diz da criatividade do grande Tadeu, do seu olhar curioso pelas coisas.
Viva Tadeu!
Que nosso eterno amigo nos inspire sempre!
Tadeu nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido por uma das coordenadoras do Grupo Arte e Criação de Tadeu, ou melhor, do qual Tadeu fazia parte. Trata-se de uma homenagem coletiva encaminhada por Juliana Reis de Azevedo. Este texto foi apurado e escrito por Hélida Matta, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 1 de fevereiro de 2021.