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Tauros Augusto Fernandes Alves

1938 - 2020

Se fosse uma paisagem, ele seria um dia ensolarado, sem vento, com temperatura amena; um dia perfeito.

Pense em um homem tranquilo, amoroso, trabalhador. Um homem que criou quatro dos nove netos como se fosse pai deles. Um homem que manteve sua família com um salário mínimo, proporcionando a todos o que era necessário para sobreviver e viver. Se o dinheiro era curto, sobrava afeto. “Ele parecia querer abraçar o mundo, mesmo com tão pouco”, diz Letícia, esposa de Gabriel, neto mais velho de Tauros.

O mineiro nascido em Juiz de Fora, na Zona da Mata, jamais saiu da cidade. Ali ele se casou e teve quatro filhos, Marcus, Cláudia, Alcione e Giovani. "Embora fosse avô do Gabriel, ele era como um pai. Eu o considerava um sogro, mesmo que ele não gostasse tanto assim de mim”, diz Letícia. Tauros foi o alicerce da família, forte como a madeira dos móveis que lixava na fábrica.

Fazendo a retrospectiva, Letícia recorda que Tauros trabalhou em uma fábrica de móveis; e, mesmo depois de aposentado, manteve os cuidados com os filhos e com os netos criados por ele: Gabriel (que morava com o avô e com a mãe) e os irmãos Rafaela, Juliana e Fernando, que foram deixados na casa do avô pelo pai. “Era como se fossem oito os filhos, tamanho o amor e dedicação que prestou a cada um deles”, ela diz. Os netos permaneceram na casa dele até os 18 anos. “Mesmo ganhando tão pouco, ele fazia de tudo para guardar um dinheirinho no mês para comprar biscoito, ou fazer um agrado para a família”, ressalta Letícia.

“Seu Tauros" adorava café e broa. Gostava de contar piadas consideradas sem-graça e histórias da sua vida, que iam desde memórias de sua infância, a criação dos netos e filhos, o dia a dia no trabalho, ou histórias de amor e carinho repetidas até o final da vida, na mesma Juiz de Fora onde nasceu e viveu. Mais do que tudo, amava as pessoas. Ele teve sete bisnetos, Guilherme e Lucca, filhos de Letícia e Gabriel, e Ana Júlia, Ana Clara, Ítalo, Alice e Ísis.

“Ele foi um guerreiro, o homem mais honesto que conheci, acho que a vida dele ilustra o que é plenitude: viveu dignamente cada momento, sem fazer mal a ninguém, deixando a porta aberta para todos que precisaram de abrigo, sendo leve e carregando um sorriso fácil, partindo com a certeza de que fez tudo o que pôde e deixando sorrisos em nós, foi um exemplo pra gente seguir”, resume a esposa do neto mais velho.

Tauros nasceu em Juiz de Fora (MG) e faleceu em Juiz de Fora (MG), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa do neto de Tauros, Letícia dos Santos Vitor. Este texto foi apurado e escrito por Patrícia Coelho, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 4 de maio de 2021.