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Teresinha de Jesus Souza

1935 - 2021

Se o café não estivesse doce o suficiente, ela logo fazia a sua careta, conhecida por todos da família.

Aos 25 anos, Teresinha saiu da Bahia rumo a São Paulo em busca de melhores condições de vida. Na capital paulistana, trabalhou como doméstica por alguns anos e conheceu Pedro, seu companheiro por trinta anos, com quem teve sete filhos: Marcia, Quitéria, Márcio, Marco, Maurício, Marisa e Renato.

Conhecida por sua simpatia e vontade de viver, Teresinha era a referência na vizinhança, afinal era a moradora mais antiga no bairro. Quando se mudou para o Jardim Luísa, no Butantã, sua rua só tinha três casas. Ela viveu por mais de cinquenta anos ali. O respeito e o carinho que todos nutriam por Teresinha são descritos nas palavras da neta Georgia, que ressalta: “não conheço uma pessoa que não gostava dela”.

Do seu lugarzinho do sofá, ela gostava de contar suas histórias de vida para os filhos. Era um hábito, ela sentava no mesmo canto todos os dias, era como se já tivesse o nome dela gravado ali, ninguém mais podia ocupar. As histórias remontavam à época de quando ela lavava roupa no rio e de como chegou em São Paulo sobre um pau de arara. Contava, também, que tinha uma patroa alemã, que a ensinou a ter pontualidade, pois não gostava de atrasos.

Teresinha orgulhava-se de suas conquistas diante de tantas dificuldades. A saudade da terra natal era amenizada com as viagens para Côcos, sua cidade de origem, para rever os irmãos e amigos.

Como fiel devota de Nossa Senhora Aparecida, Teresinha assistia todos os dias a missa pela televisão. Segundo Georgia, a fé da avó era inabalável, era o que lhe “dava forças para seguir em frente e superar todas as dores e dificuldades da vida".

Teresinha sempre se dedicou a cuidar da casa e dos filhos com muito carinho e educação. Quando ficou viúva passou a cuidar dos netos Bruno, Gustavo, Dayane, Georgia Tamiris, Marcio, Vitor, João Pedro, Felipe, Henrique, Alan e dos bisnetos Sophia, Maria Helena, Flora, Pedro e Mirella.

Tinha como hobby fazer artesanatos como tricô e crochê, surpreendendo a todos com suas belíssimas obras de arte. Muito inteligente, buscava aprender coisas novas. Com o advento das tecnologias, ela se reinventou, aprendendo a tirar amostras de modelos pelo celular.

A neta Georgia lembra que a avó “amava comer costela cozida, bucho e requeijão com café enquanto contava suas histórias de vida”. Mas com um detalhe, o café deveria estar doce, se não estivesse doce o suficiente, ela fazia careta. Ela tomava e fazia careta, falando que não estava doce. E nem adiantava convencê-la do contrário.

“Essa careta era conhecida por todo mundo, os filhos, os netos. A gente queria saber se alguma coisa estava boa, a gente dava para ela experimentar, se ela fizesse essa careta a gente já sabia que não estava bom. A gente dava risada das caretas que ela fazia”, relembra saudosa a neta. Algumas vezes para não contrariar com tamanha sinceridade, Teresinha até concordava que a comida estava boa na frente da pessoa, mas quando a pessoa virava as costas, escapava uma caretinha.

Grata pela convivência de tantos momentos bons e ensinamentos de vida presentes nas histórias de Teresinha, a neta Georgia encerra essa homenagem com a mensagem da família: “Perto ou distante, o nosso laço será eterno! Não importa se vamos nos ver amanhã ou daqui cinquenta anos. Nosso amor não irá mudar e nosso elo jamais será perdido. Olhe por nós de onde estiver. Saudades eternas!”.

Teresinha nasceu em Côcos (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Teresinha, Georgia Souza Matos. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Lícia Zanol e moderado por Ana Macarini em 5 de julho de 2021.