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Valcir Barsanulfo de Aguiar

1942 - 2020

Um enorme coração que buscava por justiça social e escrevia lindas poesias.

Onde chegava Valcir virava o centro das atenções. Um homem de hábitos simples, cujo dom da palavra transformava-o em um ilustre orador. “Meu veinho tinha lindos olhos azuis e, como um bom comunista, adorava vestir uma camisa vermelha”, conta a admiradora e filha, Ana Daniela.

Valcir teve sete filhos. Com Maria Helena, vieram suas seis meninas: Ana Daniela, Ana Karine, Ana Flávia, Ana Klarissa, Ana Lígia e Ana Cecília, que lhe presentearam com os netos Ana Luiza, Pedro e Joaquim. Além delas, deixa também um filho, Thiago. Atualmente vivia com Marilucia, ou simplesmente Lu, sua companheira.

Cercado por mulheres em sua família, deixou saudosas as três irmãs: Vera, Vorlei e Velza. Além dos amados sobrinhos, André e Júnior, com quem mantinha uma ótima relação.

Trabalhar como representante comercial era perfeito pra ele, que adorava pessoas e tinha prazer em estar com elas. Zelava também por suas amizades; Valcir sempre foi um homem de muitos amigos e isso era algo valioso em sua vida.

Seus valores eram mais etéreos que materiais. Não sonhava com coisas pessoais, só desejava um mundo mais justo. Com o comunismo como ideal desde sempre, a filha diz que seu pai “não se cansava de lutar por justiça social em um país com tantas desigualdades". Fazendo sua parte, acreditava que poderia atingir um mundo sem preconceitos, onde todos pudessem ter oportunidades.

“Meu pai era explosivo, intransigente e por isso às vezes incompreendido. Pensava tanto nos outros que até esquecia de si, e até mesmo da família em alguns momentos; mas a ‘culpa’ era de seu coração enorme, que costumava dizer comportar todo mundo.”, conta Ana Daniela.

A filha entrega a falta de dom de Valcir na cozinha. Segundo ela, era um glutão e amava beber e comer de tudo! Gostava muito de sentar em um boteco pra tomar uma cerveja. Mas não deixava de apreciar um programinha caseiro. Generoso e muito alegre, a filha lembra que tinha o hábito de sempre atender às ligações com uma expressão animada: “Alouu! Fala quem pagou!”

Valcir apreciava futebol, livros e música. Dessas, além de Frank Sinatra, a que mais o representa segundo Ana Daniela é “A noite do meu bem”, de Dolores Duran. No entanto, mais que simplesmente gostar de livros, ele gostava de escrever, e publicou, por conta própria, dois exemplares. É com um trecho de um poema de sua autoria, que Ana Daniela despede-se do paizinho guerreiro: “Descanse, veinho. A luta continua. Te amo!”

Fragmentos do Poema
Andanças
(...)
Isso porque da vida
não levo mágoa nem rancor
e nessa vida corrida
vou espalhando amor

Em cada lugar que passo
deixo d'alma um pedaço
Gente chora, gente implora
prá que eu não vá embora.

de "Estórias, peripécias e canções de um viajante"

Valcir nasceu em Anhanguera (GO) e faleceu em Ituiutaba (MG), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Valcir, Ana Daniela Leite e Aguiar. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Denise Pereira, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 6 de março de 2021.