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Valdecir Vieira Elias

1953 - 2020

A estrada foi sua companheira, além de uma grande escola, ensinou-lhe até a cozinhar.

Um homem de coração bom, pai e avô afetuoso, amigo de todas as horas, caminhoneiro hiperdisciplinado, que por meio do seu ofício viveu uma das suas maiores paixões: viajar pelo país! É desse jeitinho que o Valdecir será sempre lembrado.

Na boleia do caminhão conheceu todo o Brasil e alguns países da América do Sul, como a Bolívia e a Argentina. Sempre que fechava um serviço, dizia aos familiares: “vou ali!”, como se todos os destinos fossem sempre perto.

A estrada foi sua companheira, além de uma grande escola, que lhe ensinou até a cozinhar. O filho Vanderson diz que, para ele, o pai era um ícone como o Ayrton Senna. A acrescenta: "Ele era o rei desse chão preto que chamamos de estrada e que ele conhecia tão bem”.

A paixão pela profissão era tão grande, que ele resolveu contrariar as marcas do tempo e, mesmo aposentado, arrumou uma forma para continuar trabalhando. Tanta dedicação inspirou o filho Vagner a seguir os passos do pai. Diz ele: “Meu pai sempre me incentivou. Foi quem arrumou meu primeiro trabalho com caminhão, na mesma transportadora onde trabalhava. Para mim era sensacional trabalhar perto dele. Ele me ensinou tudo sobre caminhão, sobre rotas, sobre cuidados na estrada”.

Valdecir nunca foi fanático por futebol, nem por política, mas acompanhava tudo. Era católico não praticante. Carregava uma inquietude que não o deixava ficar parado. Gostava de música sertaneja raiz — aquela bem tradicional! Casou-se duas vezes. Nasceu na pequena Alto Alegre, mas fez de Barretos sua morada. Não dispensava em hipótese alguma a oportunidade de comer um tradicional pudim de leite que, entre os doces, era o mais apreciado por ele.

Amava estar em família e sabia viver esses encontros com intensidade: talvez como uma forma de minimizar os impactos da distância, não só a imposta pelo ofício, mas por residirem em cidades diferentes. "Por isso", ressalta a filha Gilmara, "todos os momentos com ele foram marcantes. Nossa convivência era um pouco limitada. Nos encontrávamos pelo menos duas vezes ao ano, mas meu pai sempre se fazia presente, diariamente, com suas mensagens por telefone e nas ligações”.

Seu coração de pai era tão grande, que coube mais dois amores: o João Paulo e a Isabella. Lembra João que a risada do pai inundava o ambiente, e que a “passadinha" de mão na boca enquanto ria, fazia todo mundo rir junto. Além disso, lembra dos seus olhos marejados ao ter nos braços pela primeira vez a sua netinha. Isabella lembra do orgulho que o pai sentia ao dizer aos amigos e conhecidos, que a filha estava cursando Direito. “Vou dedicar a ele e à minha mãe o meu Trabalho de Conclusão de Curso, por todo o apoio que recebi desde o início da minha jornada”, ressalta ela.

Os quilômetros rodados por Valdecir em suas andanças pelo país impulsionaram a materialização de projetos e sonhos que não eram só seus. A rotina pesada de caminhoneiro e os quarenta e cinco anos dedicados ao ofício não tiraram dele a ternura, nem a capacidade de sonhar. Por tudo o que fez, terá sempre um espaço na memória de todos que o conheceram! Seus exemplos de perseverança e integridade, serão como faróis a iluminar os caminhos a serem trilhados por seus filhos e pelos netos Gabriela, Helena e Lucas.

Valdecir nasceu em Alto Alegre (SP) e faleceu em Barretos (SP), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos filhos de Valdecir, Gilmara Santos Elias Esteves Gaia, Vagner Santos Elias, Vanderson Santos Elias, Isabella Oliveira Rodrigues e João Paulo Oliveira Rodrigues.. Este texto foi apurado e escrito por Fabrício Nascimento da Cruz, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 8 de novembro de 2021.