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Valdetino Marcelino Caixeta

1954 - 2020

Ele não perdia uma piada, era brincalhão e "pegava no pé" de todo mundo.

Filho do meio entre dez irmãos, Valdetino nasceu e se criou em pleno Triângulo Mineiro, acompanhando os movimentos do pai, Seu Belchior, para o sustento da família. Ajudava-o na pequena venda montada em Guimarânia, onde todos conheciam o estabelecimento como “a Mercearia do Bechó”.

Aos 16 anos, Valdetino resolveu buscar a independência e mudou-se para a cidade vizinha, Patrocínio. Ali começou a ganhar a vida como sapateiro e, no auge da juventude, apaixonou-se por Maria Amália, sua companheira por quase cinquenta anos. Com novos planos para o casal, viu na Polícia Militar a oportunidade de fazer carreira, mesmo com os poucos anos de estudo na infância. A aprovação no concurso foi a primeira vitória. Seguiu no serviço militar até a aposentadoria, trajetória que percorreu com gosto e dedicação no município de Patos de Minas.

A sisudez que a profissão exigia parecia tomar conta da expressão de Valdetino, mas quem o conhecesse de perto veria que por trás do jeitão sério escondia-se uma personalidade divertida e alegre. Talvez também por isso tenha se tornado uma figura bem popular na sua tão querida Patos de Minas, onde viveu sempre na mesma rua e rodeado por uma vizinhança de bons amigos.

Os trabalhos informais como motorista, que buscou depois de aposentado, não o impediram de aproveitar a rotina ao lado de Maria Amália e fazer o que mais gostava – cozinhar e reunir gente em casa. Os filhos Cristiano, Michele e Paulo Ricardo — que entrou na sua vida aos oito meses como uma promessa cumprida de Valdetino – e os quatro netos eram seu apego e degustavam com frequência os pratos típicos da boa culinária mineira preparados por Valdetino, habilidade que ele e os irmãos aprenderam com a própria mãe. Gostava da mesa farta e nos almoços e reuniões festivas nunca faltava feijão tropeiro, frango caipira com guariroba, pernil assado e até o pão de queijo para o aperitivo.

O cotidiano mais leve após a aposentadoria o fez adquirir um novo hábito, relata Michele: “Diariamente tomava sua cervejinha para abrir o apetite e cochilava depois do almoço”. Outro costume eram os encontros semanais com o melhor amigo, na área rural ali da região. Toda semana, Valdetino e Tarcísio, o irmão mais novo, tinham o programa favorito já definido: passar o dia na roça, cozinhar uma comida caipira, bebericar cerveja e jogar conversa fora.

Também não deixava de ajudar as pessoas queridas que estivessem por perto. Nutria o sonho de ver o neto mais velho formar-se na faculdade e, para isso, deu o incentivo financeiro necessário. Já para a neta mais nova dedicava o tempo em visitas quase diárias. No relato de Michele, mais emoção: “O que conforta é que meu pai fez bem para muita gente”.

Valdetino nasceu em Coromandel (MG) e faleceu em Guimarânia (MG), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Valdetino, Michele Cristina Caixeta Andrade. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 13 de setembro de 2021.