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Valdinei Dias da Silva

1952 - 2020

Combateu o bom combate, cumpriu a missão e guardou a fé.

Valdineila, filha de Valdinei, escreveu a seguinte homenagem para o pai:

"Amava comer peixe, talvez por ter crescido na região do porto, nas proximidades do rio Cuiabá.

Patriarca da família, aconselhava e cuidava de todos os familiares e parentes. Foi um homem íntegro, superpai, esposo, amigo, irmão, tio, sogro, avô, bisavô e missionário, sempre disposto a ajudar todos em qualquer circunstância.

O adjetivo que melhor o descreveria, com certeza, é 'protetor', pois dedicou a vida a proteger todos aqueles que amou. Foi um marido amoroso e cuidador. Tudo que fazia era sempre junto de sua esposa.

Contraíram juntos a Covid-19 e ele se preocupou com a melhora dela até o último instante, quando telefonou para saber como a esposa estava, momentos antes de ser intubado.

Chamavam-no de 'Nei Rei', e eu o chamava de 'Meu Véio' porque ele era extremamente amoroso. Viveu em prol dos filhos e era verdadeiramente um pai coruja, daqueles que perturbavam a esposa para telefonar para todos os familiares diariamente para saber se estavam bem, principalmente os filhos.

Ele não viveu um dia sem cumprir essa rotina, pois ter a certeza do bem-estar de todos e da prole era como uma missão e, quando isso não era possível, ele entrava em crise nervosa devido a tanta preocupação!

Nunca me esquecerei do dia em que ele pediu para minha mãe me telefonar, sem sucesso. Assustei-me com ele batendo no portão de minha casa dizendo:
'Quer me matar de preocupação? Sua mãe e eu estávamos ligando no seu celular por horas! Por que não atendeu?'.

Assim era meu pai, genuinamente altruísta. Cumpriu diariamente o que se diz em 1º Coríntios 10:24 ('Ninguém deve buscar o seu próprio bem, mas sim o dos outros'). Ele sempre se preocupava com todos, antes mesmo de preocupar-se consigo mesmo!

Quando havia alguém da família ou algum conhecido precisando de ajuda, não importava quem fosse, lá estava o casal (papai e mamãe). Eles percorriam qualquer distância, em qualquer dia da semana, dispostos a ajudar com oração e com remédios naturais que colhiam da chácara deles.

Ele não perdia uma oportunidade de falar do amor e da existência de Deus. Mesmo debilitado pela Covid, enquanto aguardava atendimento na Unidade de Pronto Atendimento, aproveitou para pregar o Evangelho aos que, assim como ele, aguardavam por atendimento.

Ele era o nosso teimoso, pois amava tudo exageradamente doce, tanto que, quando bebia algo, no copo havia metade líquido e metade açúcar!

Antes de contrair o coronavírus, mesmo com problemas de saúde, lá estava ele, quase que imperceptível entre as árvores, capinando e cuidando da chácara junto de minha mãe ou sozinho. Ele cuidava com muito gosto das plantações e criações, amava tanto as crias que tinha dó de abater as galinhas para comer, por isso só o fazia em dias de festa.

Diariamente ele acordava bem cedo e já vestia seu supertraje e ficava capinando, plantando e cuidando dos animais até escurecer, e, quando finalizava, deitar-se para descansar não bastava, pois ele precisava sempre de um analgésico ou anti-inflamatório para poder continuar no dia seguinte.

Sim, ele trabalhava à base de remédios. Por que ele fazia tudo isso? Exatamente porque cuidar daquilo que ele e minha mãe plantaram, cultivaram e ajudaram a nascer o fazia se sentir pleno, sentir-se vivo!

Meu pai amava estar em família e por isso nunca deixou um aniversário sem comemoração. Desde a infância dos filhos até a fase adulta, todos os aniversariantes da família, sem exceção, recebiam festa, ainda que singela. Juntos, esposo e esposa faziam questão de presentear, felicitar e abraçar o aniversariante.

Por influência de minha mãe, todos da família (filhos, netos, noras, genro...) éramos acordados pelo casal, seja por telefonema ou pessoalmente, ao som de 'Parabéns pra você...' Que emoção!

Que saudades teremos das homenagens desse dueto que infelizmente se tornará um solo, porque agora será apenas minha mãe! Que saudades sentiremos dele nas reuniões em família todos os domingos, na chácara, bem como da concretização da construção da nova casa que iniciamos!

Papai encerrou sua trajetória nesta terra exatamente com o versículo bíblico descrito em II Timóteo 4:7. Valdinei Dias da Silva combateu o bom combate, acabou a carreira e guardou a fé. Vai deixar muitas saudades."

Valdinei nasceu em Cuiabá (MT) e faleceu em Cuiabá (MT), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Valdinei, Valdineila dos Santos Silva. Este tributo foi apurado por Lila Gmeiner , editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 12 de setembro de 2020.