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Valdirene Aparecida Ferreira dos Santos

1980 - 2020

Profissional de saúde por paixão e vocação, sonhava com um mundo em que todos tivessem um atendimento digno.

Auxiliar de enfermagem, a paranaense estava na linha de frente no Hospital Marcelino Champagnat (HMC), na cidade de Curitiba, local onde trabalhava há três anos.

Casada e mãe de dois filhos maravilhosos, era uma mulher muito especial e amável, um exemplo de ser humano.

Colaboradora dedicada e muito querida por todos os colegas, sempre se empenhou para cuidar da saúde de centenas de pessoas junto com a valorosa equipe de enfermagem do hospital onde trabalhava.

Deixa muitas saudades e um lindo legado de amor e dedicação à sua profissão.

Do amigo, Micael Henrique.

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Valdirene está em todas as lembranças de infância da irmã Débora: "era ela quem cuidava da gente enquanto a nossa mãe saía de casa para trabalhar. Nos levava na escola, fazia o café e o almoço, e nunca deixou de acompanhar nosso irmão mais novo, que sofria de uma doença respiratória, nas consultas médicas."

Inclusive, foi em uma dessas consultas em que ela descobriu a vocação que a marcaria para sempre: a enfermagem. Ela tinha apenas 15 anos quando presenciou um erro médico – uma injeção errada – que quase tirou a vida do irmão. Desde então, disse que trabalharia na área de saúde para dar o melhor de si por um suporte digno a todos.

Logo após esse episódio, ela ganhou um concurso de redação na escola. O tema era "A profissional que eu quero ser". Com um belo texto, dizia com clareza que os pacientes precisavam ser sempre bem cuidados e atendidos, independente de raça, cor, religião ou condição financeira. Ela queria ser enfermeira porque havia percebido que era exatamente nos momentos de fragilidade que as pessoas mais precisavam de profissionais honestos e humanos por perto.

Nos anos em que trabalhou como auxiliar de enfermagem, conquistou muitos espaços, pacientes e corações. Passou por diversos hospitais em Curitiba (PR) – dizem que sua prova de admissão para o Hospital Infantil Pequeno Príncipe, onde trabalhou por cerca de três anos, é até hoje ser a melhor já entregue por uma profissional da área.

Seu último trabalho foi no hospital Marcelino Champagnat (HMC), onde teve um bom retorno financeiro, essencial para que, após concluir o curso técnico, conseguisse pagar a graduação em Enfermagem (ela cursava o terceiro ano). Nunca fugiu à luta e trabalhou incansavelmente até ficar doente, no final de março, quando precisou ser internada. Entre melhoras e pioras, faleceu no dia 25 de abril.

Valdirene foi um grande exemplo para todos. Ela dizia que "conhecimento era algo que ninguém nunca iria roubar da gente" e que seria a primeira da família a se formar na faculdade para mostrar que nunca seria tarde para estudar e realizar os sonhos. Jamais conheci uma mulher mais generosa e honesta. Ela tinha uma empatia gigante e fazia tudo por quem amava.

Ela era a maior fotógrafa da família: era quem registrava os momentos para que sempre tivessem boas lembranças. Também era a melhor voz: cantava em um coral e tinha um timbre tão forte e bonito que alegrava fácil a vida de todos.

Deixou três filhos: Samuel, 19 anos, Felipe, 16 anos e Lucas, 9 anos.

"Obrigada, minha irmã! Vamos seguir o seu legado de fazer o melhor aqui na Terra até o nosso último suspiro."

Valdirene nasceu Ponta Grossa (PR) e faleceu Curitiba (PR), aos 39 anos, vítima do novo coronavírus.

Jornalista desta história Laura Capanema, em entrevista feita com irmã Débora, em 18 de maio de 2020.