1970 - 2020
"Vai em casa domingo, comprei um barril de chope, vou assar uma carne. Não precisa trazer nada!", dizia Casquinha.
Casquinha era apelido de criança, de tão magrinho, numa alusão a “casquinha de gente”.
O menino pobre virou comerciante bem-sucedido, mas continuou Casquinha.
Agora, na fase adulta, tudo mudara, ou quase tudo! Ele possuía carrões, chácara, casa de luxo, mas não mudaram os amigos dos tempos difíceis, não mudou o desejo de ter sempre a família enorme e ainda humilde por perto. Assim, para todos, ele continuou sendo o mesmo Casquinha de sempre.
Com um sorriso constante no rosto, exceto quando era dia do próprio aniversário: não gostava de receber os parabéns. Quando chegava a data, ele sumia, ninguém o encontrava. Ele gostava tanto da vida que não queria envelhecer, sabia que o tempo cobraria seu preço um dia.
Sempre otimista, só uma coisa o preocupava: a saúde da mãe, Dona Mercês. Dizia que não suportaria perdê-la, não saberia o que fazer ou dizer. Sem querer ou prever, não perdeu a corrida contra o tempo e as últimas palavras foram ditas por ela: "Te amo, Valter e te abençoo pela última vez, meu filho".
Casquinha, Valter, Valtinho, partiu um pouco antes de um lindo amanhecer de domingo, ninguém pôde ver seu rosto, mas todos têm uma única certeza: ele estava sorrindo!
Valter nasceu em Campinas (SP) e faleceu em Valinhos (SP), aos 50 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo primo de Valter, Arlei da Costa. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Phydia de Athayde em 5 de fevereiro de 2021.