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Vanessa Pereira Venâncio

1979 - 2020

Junto dos filhos, voltava a ser criança, fosse nadando no rio ou galopando pelas estradas de terra.

Vanessa era uma menina frágil, mas de grande fortaleza interior, venceu muitas batalhas, desde seu nascimento prematuro até seu último respirar.

Sua mãe, Lourdes, conta como ela ficou doente ainda pequena, e passaram por muitas situações juntas. Foram diversas internações, e viagens até Belo Horizonte, para fazer um exame que era muito específico, e não tinha na cidade em que moravam. Ficaram um tempo fora de casa, na capital de Minas Gerais, onde nasceu sua irmã, Danúbia.

Até chegar ao diagnóstico correto, Vanessa desenvolveu bronquite asmática e depois asma. Chegou a perder os movimentos das pernas, era preciso carregá-la no colo; teve artrite também. Foi só aos sete anos ela teve o diagnóstico acertado. O foco da infecção que causava todos os problemas estava nas amígdalas.

Depois de operadas as amígdalas, Vanessa ficou bem, tratando-se até os 13 anos de idade com vários medicamentos, um deles era a temida injeção de Benzetacil, que ela precisava tomar de 15 em 15 dias, dos sete aos 13, sem pausas. Nesse meio tempo, ela já andava e ficou bem, empolgada, linda, alegre. Aos 15 anos, ficou completamente curada, sem medicamentos e com boa saúde.

Foi uma festa para todos vê-la recuperada. Mesmo já contando 15 anos, Vanessa voltou a ser menina, reviveu com brincadeiras de criança o que tinha perdido entre internações e medicamentos. Só começou a brincar e aproveitar as coisas da vida aos 8 anos, mas havia alguns cuidados necessários, "ela sempre teve a natureza calma, não dava trabalho para obedecer as regras", sua mãe conta.

Vanessa era muito criativa, e tinha uma esperteza que impressionava sua mãe, fazia croquis para suas bonecas e dizia que seria estilista. Para ela, o desenho, além de uma forma de expressão, era pura e singela beleza. Vanessa gostava de presentear as amiguinhas com seus traços e rabiscos que formavam belas obras de arte.

A mãe conta que a menina também tornou-se dona de casa cedo, porque ela precisava da ajuda da filha para dar conta dos afazeres domésticos. "Brincava, mas também ficou responsável pela casa, para que eu pudesse trabalhar. Éramos só nós três, eu, ela e Danúbia". E, apesar das responsabilidades, ela nunca deixou sua essência alegre perecer, foi festeira quando jovem, apesar de tímida; e quando começou a participar de eventos da Igreja Católica, se soltou e sentiu-se acolhida.

Foi Catequista. Participou do grupo de jovens. Trabalhou na rádio 'Por um mundo melhor AM', no programa Jovens na Comunidade, um bom tempo. Promovia eventos. Participava de outros, era assídua na pastoral da juventude. Foi jurada de festivais de música católica, teatros e por aí vai, não parava quieta. Com sua empolgação e energia, dedicou sua juventude à igreja e era feliz com isso. "Eu até brigava, falava que só faltava levar a cama, não parava em casa", disse sua mãe, Lourdes.

Era empolgada, gentil, jovem, dedicada em tudo. Sua mãe a levava para os GV Folia quando era no Centro de Governador Valadares. Vanessa e Danúbia — sua irmã — eram as companhias do evento e de outras festas. Apesar de namoradeira, era estudiosa, nada anulava sua dedicação e maturidade. Fez o ensino médio junto com o curso de técnica de enfermagem; sempre estudou enquanto trabalhava, sua mãe admira como ela dava conta.

E foi assim que começou sua vida de jovem adulta. Ainda muito jovem, aos 16 anos, trabalhou em pizzarias e restaurantes. Desempenhou a função de auxiliar de escritório e cuidadora de acamados, foi também instrumentadora de cirurgia plástica. Por último, trabalhou na Associação Santa Luzia como técnica de enfermagem. Saiu de lá aos 26 anos, quando tornou-se mãe de Heric. Também foi mãe de Raphael e Thales. A partir daí, viveu para os filhos, era uma mãe leoa, protegia-os de tudo e todos.

Mudou-se para Diamantina, e por lá ficou durante dez anos. Formou-se como Analista de Sistemas, e não teve o sonho realizado, de firmar nesta profissão. Voltou a morar em Governador Valadares depois da separação, para poder ficar perto da sua família. "Era cuidadosa, amorosa e zelosa; como mãe continuou sendo a filha amiga de sempre. Foi a melhor mãe que já vi. Gostaria de ter aprendido com ela. Viveu intensamente o "ser mãe", pena que agora eles não a tem mais, mas Deus os guardará", reflete a mãe de Vanessa.

Todas as brincadeiras de criança ela fazia com os filhos: noite do pijama, pega-pega e muitas outras. Sempre mais na casa dela, até porque eram três. Ensinava-os a serem crianças, a ter a infância longa que ela teve, só que aproveitando desde o início. Gostavam era de ir para a casa da avó, e de ficar no refúgio em Diamantina, cidadezinha próxima à casa do Tio César e tia Sandra; e, também, próxima à roça onde moram outros parentes. Ela junto com os filhos, iam andar a cavalo no mesmo lugar de quando ela ainda era criança. Era o passeio preferido com os meninos, pois para ela soava como reviver a infância. Lourdes conta que havia uma brincadeira típica com os garotos, "eles iam para a cachoeira, desciam o rio de boia e ela pegava os três em outro ponto, e faziam a mesma brincadeira na terra.".

Valéria, sua madrinha, acrescenta o quanto a amava, e o tanto que Vanessa era capaz de ser uma fortaleza, e, ao mesmo tempo, gentil com todos. Mesmo depois que Vanessa mudou de cidade, as duas se falavam sempre que podiam. Na internação, era Valéria quem pegava os boletins médicos e ia ao hospital sempre que necessário.

Ela conta histórias engraçadas que viveu com a afilhada, desde embebedar o convidado de uma festa de casamento até rir por pouca coisa, simplesmente por sua incrível presença. Porque assim era Vanessa, uma menina-mulher de grande força interior, e de enorme generosidade, que venceu muitas batalhas e deixou muitas lembranças.

A irmã de Vanessa também tem uma homenagem neste Memorial, para conhecer sua história busque por Danubia Pereira Venâncio.

Vanessa nasceu em Governador Valadares (MG) e faleceu em Governador Valadares (MG), aos 40 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela tia e mãe de Vanessa, Valeria Alves e Maria de Lourdes Pereira Venâncio . Este tributo foi apurado por Larissa Reis e Talita Camargos, editado por Malu Marinho, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 7 de julho de 2021.