1943 - 2020
Não gostava de ficar parada. Ia sempre à casa dos filhos para visitar ou ajudar com afazeres; fazia por amor.
Dona Vera, também conhecida como tia Vera na comunidade de Thomas Coelho onde morava, era uma mulher mais forte e de coração maior do que se poderia imaginar a julgar por seu um metro e meio de altura.
Junto de Adilson, em um casamento de mais de 50 anos, foi mãe de 11 e a principal responsável pela criação de cada um deles. Durante muito tempo, trabalhou com serviços gerais e se virou do avesso para colocar comida na mesa e dar educação aos filhos.
Daniele conta que, apesar das dificuldades que enfrentou na vida, a mãe era uma mulher "incrível" e que sempre os "ensinou a ter caráter acima de qualquer coisa e a respeitar as pessoas do jeito que elas são". Um aprendizado que, como herança deixada por Dona Vera, é repassado aos seus 13 netos e bisnetos.
Depois de ter se aposentado, Dona Vera continuou superativa em seu papel de mãe e avó, mesmo tendo os filhos e os netos já crescidos. Por não conseguir ficar parada, ia frequentemente à casa de suas filhas para arrumar tudo e deixar a comida pronta para quando retornassem do trabalho.
Daniele lembra que, quando finalmente chegava em casa, a mãe "já não estava mais lá", mas sua presença era inegavelmente sentida. Fazia por amor, sem pedir algo em troca, até porque não gostava nadinha de incomodar os outros, e era bom que as coisas fossem do jeito que ela gostava.
De personalidade forte, vira e mexe tinha discussões com Daniele porque a filha queria muito que Dona Vera vivesse mais para si mesma. No fim das contas, porém, toda essa doação era o que a fazia se sentir bem e o carinho não ficava sem retribuição, rendendo, entre outros gestos, homenagens que Daniele fez em festividades especiais.
Dona Vera não tinha papas na língua e falava o que pensava. O genro Thiago, esposo de Daniele, conta que a sogra brigava com os filhos quando via algo errado, mas, se alguém falasse mal deles… meus caros, Dona Vera "virava bicho" para defender suas crias!
Por gostar de estar presente, preferia ela mesma visitar a família e chegava sem avisar, inclusive para passar seu próprio aniversário. Quando não estava de um lado para outro, Dona Vera ficava em casa, de onde gostava de fazer vídeos do quintal e de seu pé de mamão para mandar aos filhos e lembrá-los de apreciar as coisas simples da vida.
No geral, Dona Vera não gostava de festas nem de barulho, mas aceitou o convite para passar o Natal de 2019 em um sítio com a turma toda. As fotos tiradas na ocasião servem para eternizar esse momento tão único e se juntam a tantas outras preciosas lembranças.
Vera nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha e pelo genro de Vera, Daniele Benedita Santos de Paula e Thiago Martins de Paula. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 12 de setembro de 2020.