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Vicente de Freitas

1948 - 2020

Mesmo após finalmente se encantar pelo aplicativo de mensagens, manteve o foco na família e nos amigos.

Seu Vicente nasceu no interior de São Paulo, em meados de novembro de 1948. Ainda pequeno trabalhou na roça e aprendeu o ofício da sua vida da zona rural, onde a família morava.

Mais tarde, ao buscar por melhores condições na cidade grande, Vicente encontrou algo mais. Aos 19 anos conheceu Maria, sua companheira e seu amor por toda a vida. O casal teve quatro filhos.

Vicente trabalhou como operador de máquinas de terraplenagem até se aposentar. O filho André fala sobre a paixão do pai por tratores: "Lembro-me dele ganhando uma miniatura de um trator e dizendo que aquele era o melhor presente que ele havia ganhado. Logo ele fez uma prateleira na sala de casa, onde colocava todos em 'exposição'".

No trabalho fez muitos amigos, que o acompanharam até os últimos dias. Relutou demais em utilizar a modernidade advinda das trocas de mensagens instantâneas via celular, mas quando começou a utilizar esse recurso ficou extremamente empolgado em poder falar com seus amigos diariamente e enviar mensagens de forma rápida.

Através do celular, ele também registrava todos os momentos em família. E, por falar em família, ele amava ver toda a família reunida. Ter todos por perto nos finais de semana e nas comemorações de datas especiais fazia seus olhos brilharem.

"Tínhamos a tradição de sempre viajar para o litoral no carnaval e ele fazia questão que todos estivessem presentes nessas viagens", relembra André.

Fumante desde os 14 anos, recebeu o diagnóstico de enfisema pulmonar e teve que aprender a enfrentar os problemas que a doença causava. Seu fôlego já não era mais o mesmo e não podia mais fazer as mesmas coisas de antes. Tinha sempre ao seu lado os remédios, que com o passar do tempo se tornaram de uso contínuo. "Mesmo com esse quadro, nunca deixou de nos passar a imagem de um homem forte, que não se deixava abater pelas dificuldades da doença. Sempre que perguntávamos se estava bem, a resposta era sempre a mesma: 'Estou bem!'", conta o filho.

Como sabemos, Vicente sempre gostou de ter a casa cheia de netos, filhos e amigos. Porém, com o confinamento obrigatório durante a pandemia, esses momentos de alegria ─ tão apreciados por ele ─ tornaram-se impossíveis de acontecer. "Para matar a saudade, sempre fazíamos uma chamada de vídeo em família, onde conversávamos um pouco com ele. Por causa da doença preexistente, ele tinha medo de ser infectado e estava sempre atento aos cuidados que precisava tomar", diz André.

Vicente partiu deixando um vazio enorme na esposa, nos filhos, netos e amigos. Ele era uma pessoa muito família, um amigo exemplar e sempre estava disposto a ajudar. O aplicativo de mensagens, que ele tanto relutou em usar, foi o meio que encontrou para se despedir de todos.

"Hoje, as lembranças dos momentos bons que vivemos vêm à tona. Lembranças de uma pessoa boa e amável, que sempre estava disposta a ajudar todos ao redor. Um exemplo de pai, marido e amigo", conclui André com a certeza de que, apesar da imensa saudade que sente, o pai agora olha por toda a família de outra dimensão e que um dia estarão todos juntos novamente na eternidade.

Vicente nasceu em Lagoinha (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Vicente, André Aparecido Bueno de Freitas. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Lígia Franzin em 5 de abril de 2021.