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Vitória Tahan Carvello

1941 - 2020

A avó árabe que se sentia mais viva ao preparar uma mesa farta e reunir a família em oração.

"Taita, nossa Taita", repete a neta Thaís, era assim que, carinhosamente, chamavam Vitória, um apelido que significa avó em árabe.

Por estar sempre sorrindo, a alegria dessa avó encontrava um jeito para alcançar todos. A neta revela que não podia passar um dia que fosse sem que a família recebesse de Vitória um "bom dia" pelo aplicativo de mensagens, seguida por um pedacinho do seu coração. "Assim, o meu dia começava e de todos os que estavam naquela lista de contatos", explica Thaís.

"Vitória no nome e na vida", tornou-se exemplo de força para os seus. A bisa do Gustavo, a mãe da Catarina, do Vicente e do caçulinha, o Lucca, tinha como principal fonte para sua alegria “reunir os filhos com os netos, as noras e o genro”, diz Thaís lembrando ainda dos agregados, explicando que "o coração dela cabia gente demais". Cabia gente e bicho também, já que seria impossível esquecer dos "netos de quatro patas" de Taita.

"Ela tinha tanto orgulho de dizer sua origem, fazia questão de sempre estar nas confraternizações de fim de ano reunindo a família". Saudosa, a neta conta que o que fazia a avó se sentir viva mesmo era poder preparar uma mesa farta de quibe, esfiha, charuto, shishbarak, arroz com lentilha e outras delícias.

A saída de Vitória do banquete da vida foi dolorosa para a família, mas esse sentimento caminha de mãos dadas com a gratidão pelo privilégio de ter convivido com ela. "Que bom podermos ter participado disso!", reconhece Thaís que, confiante, acredita no poder da transformação da dor em saudade, amor e admiração.

Assim como Vitória, que partiu com a certeza de cumprir a missão de manter sua família unida em oração. Com a mensagem matinal da avó tatuada no braço, a neta despede-se saudosa com um recado: “Taita, de onde estiver saiba que estaremos sempre juntos. Continue cuidando de nós”.

Vitória nasceu em Goiânia (GO) e faleceu em Gurupi (TO), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Vitória, Thaís Leão Carvello. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 16 de abril de 2021.