1951 - 2020
Fazia questão que a família prestigiasse suas apresentações no Centro de Vivência da Terceira Idade.
Quando menino, Waldemir atravessava a baía de Vitória a nado. Aventurava-se nas Cinco Pontes da capital capixaba. De lá, do alto dos arcos, saltava no mar. A vida pulsava nele em movimento, foi ativo da infância até seus últimos dias.
Teatro, vôlei, ginástica, natação e outros esportes estavam na lista de atividades que praticava no Centro de Vivência da Terceira Idade que amava frequentar. Nas apresentações públicas do grupo, fazia questões de ter a família na plateia. Alegrava-se ainda mais quando os três filhos, o casal de netos e a esposa aplaudiam-no.
Os jogos faziam parte da sua diversão com os netinhos: Bernardo e Dianna. Esportes como vôlei, basquete e futebol tornavam-se brincadeiras quando Waldemir estava com eles. Devido à proximidade de sua residência com a casa de Bernardo, era difícil um dia que não se viam. Com Dianna, ele também não perdia a oportunidade de estar junto.
A cuíca era uma companheira fiel de Waldemir. Dela, saíam lindas interpretações de canções da MPB, samba, rock das antigas e jovem guarda. Tinha um apreço especial por Roberto Carlos e Beatles. A família e os amigos prestigiavam-no ao acompanhá-lo à mesa cantarolando as canções interpretadas por ele no instrumento.
Os filhos Hudson e Douglas herdaram a veia musical do pai. Inclusive, Douglas divide o trabalho de frentista com o de guitarrista. Hudson toca nos momentos de folga, a exemplo do que o pai fazia. Já a filha Denise, é enfermeira, a mesma profissão do irmão Hudson.
"Minha filha e meu filho são enfermeiros", dizia com orgulho aos colegas de profissão deles, enquanto estava na UTI.
Farrista, torcedor apaixonado da Portela, conheceu a esposa, Maria das Graças, festejando em um baile de Carnaval. O casamento durou quarenta e nove anos e foi marcado por uma convivência harmônica e companheirismo, faziam tudo junto.
De acordo com Hudson, o pai e a mãe criaram ele e os irmãos para serem honestos como ele.
"Não era perfeito, como qualquer ser humano. Mas, se fosse para eu escolher como seria meu pai, eu não mudaria nada, pediria que ele nascesse igual. Ele foi exemplo de integridade e, simultaneamente, enchia a casa de alegria", contou o filho.
Entre os ensinamentos sérios, havia espaço para os churrascos com cerveja e música alta, pescaria e pra fazer a cuíca gemer em família.
Fez amigos durante sua vida e até no hospital. Nos anos de trabalho como mecânico na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), cultivou muitas amizades com seu jeito alegre e disposição em ajudar. Ganhou o apelido de Dreher na CVRD.
As amizades eram atravessadas por suas paixões, uma delas o Flamengo. Quando o time ia bem, não poupava os amigos de muita zoeira. Se o clube ia mal, tinha que aguentar as brincadeiras dos torcedores de times rivais.
"Dá-lhe, mengão!", bradava com frequência.
A paixão dele pelo Flamengo era tão grande que, ao praticar esportes, sempre escolhia roupas rubro negras para treinar.
No dia em que partiu, o Flamengo ganhou de goleada.
"Fiquei emocionado, cada um dos quatro gols foi para meu pai, um dos flamengistas mais apaixonados que já existiu", afirma o filho Hudson.
Waldemir nasceu em Vitória (ES) e faleceu na Serra (ES), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Waldemir, Hudson Gomes Chagas. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 21 de julho de 2021.