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Walter Aparecido Rodrigues

1967 - 2020

No meio da natureza, se sentia inteiro. Plantava sorrisos e cultivava sua família com muito amor.

A história de Walter, Waltinho como era chamado carinhosamente, começou na fazenda de Santa Eliza, em Campinas, e foi bem aí, em contato direto com a natureza, que conheceu um dos prazeres que mais o faria feliz em sua vida: estar no meio do mato. Foi criado muito próximo ao seu pai, que lhe foi um exemplo de como ser enquanto humano.

Com 18 anos, ainda bem jovem, conheceu Neusa, menina debutante na época, com seus 15 anos. Desde então começaram a viver um romance que atravessaria todos os obstáculos e novidades da inocente juventude. Neusa, sua esposa, lembra, sempre apaixonada: “Passamos por muitas experiências e aprendizados juntos. Ele que falava isso. Quando começamos éramos muito imaturos, e a própria vida foi se encarregando de nos ensinar a melhor forma de aprender com ela. E aprendemos muito a valorizar tudo”.

Walter foi um homem conhecido por apreciar tudo em seus mínimos detalhes. Dentre as muitas memórias especiais, uma se destaca por ser muito romântica, e sua esposa Neusa se lembra sempre: “Nos primeiros 15 anos de casados, eu fazia o café e levava pra ele na cama, pra tomarmos juntos, na mesma xícara. Depois desses anos, era ele que fazia o café e levava pra mim e sempre a primeira xícara tomávamos juntos ali. A gente fazia isso desde que nos casamos”.

“Ele era muito brincalhão. Todos que o conheciam sabiam desse jeito dele”, lembra Neusa, sua esposa. O simples fato de ele estar por perto era o que a deixava feliz. Quando via alguém com a cara fechada, Walter sempre falava “sorria, a vida é linda” trazendo uma alegria para aquele rosto. E para muito além desse senso de humor, Walter também era admirado pela sua fé, que era grandiosa, e por ser alguém com quem se podia contar para tudo, mesmo que ele tivesse que abdicar de algumas de suas coisas.

Juntos, construíram uma família com um casal de filhos: Gabriela, que se orgulha por ser muito parecida com o pai, e Walter, que recebeu o presente de ter o mesmo nome de seu exemplo. Tiveram também cinco netos e seis cachorros, que eram muito especiais para Waltinho. Nas palavras de Neusa, “ele amava os filhos e amava a vida” e para Walter, seu filho, “Ele sempre viveu em prol pra família, sempre pensava na gente primeiro”. Seu carinho pela família aparecia no amparo que dava a eles e na dedicação para que nunca faltasse nada. Os filhos sempre tiveram certeza de que os pais se amavam demais.

Walter podia até ser um pouco firme para criar seus filhos. Mas, no fundo, por trás da grande fortaleza, guardava dentro de si muito afeto para entregar a eles. Eram todos muito grudados e estavam sempre unidos. Com tanta entrega à sua família, formou seus pequenos para serem pessoas de caráter e atitude, e é lembrado de forma muito amorosa por seus filhos como “meu herói e meu grande amigo”. Incentivou os dois em seus sonhos, como fez com Gabriela, que queria muito se formar.

Quando se pensa em Waltinho, as lembranças dele em meio à natureza chegam no mesmo momento. Por ter crescido nesse ambiente, sentia uma felicidade enorme e genuína quando “ia pro meio do mato”. Acordava cedo, cantarolando e já brincando com seus cachorros. E, quando chegava a noite, olhar para o céu e fazer suas orações era seu momento especial. Era ali que se encontrava e de onde tirava sua inspiração para ser o porto seguro da família.

São tantas marcas que Walter deixou que “Se fosse falar de tudo, daria um livro”, como diz Neusa. Foi exemplo de pai, de força e de superação. Talvez, com sua tamanha humildade, nem tenha tido dimensão de sua grandeza, mas com certeza é lembrado sempre no amor de sua casa e em seus ensinamentos, como pai, avô e marido tão especial que foi.

Em homenagem aos momentos em que ouvia músicas antigas com sua filha, fica aqui um trecho da música “Naquela mesa” que, para Gabriela, resume bem esse sentimento de amor que ele plantou:

"Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã"

Walter nasceu em Campinas (SP) e faleceu em Campinas (SP), aos 52 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos familiares de Walter, Neusa de Araújo Rodrigues, Gabriela de Araújo Rodrigues e Walter Diego Rodrigues. Este texto foi apurado e escrito por Gabriela Pacheco, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 14 de maio de 2021.