1953 - 2021
Ensinou que é preciso pouco para ser feliz nesta vida.
Sem poder estar presente para despedir-se do irmão, Edson Fernando escreveu uma última carta àquele que lhe ensinou, com seu exemplo, o verdadeiro sentido da palavra amor:
Desde quando soubemos que este mundo ficou pequeno e você partiu para a plenitude do amor divino, sendo recebido pelos beijos da Fla e pelo abraço do nosso pai, as lágrimas não param de cair. Você não imagina a dor que estamos sentindo. É uma dor muito grande, porque tem o tamanho do amor que nós temos por você.
Como nós te amamos! E é esse mesmo amor, essa mesma paixão que temos por você, que haverá de nos curar nesta travessia tão difícil. Permaneceremos nele, mano, do jeitinho que nos ensinou nossa mãe. No amor, daremos o passo seguinte. Será um passo mais lento, bem devagar. Mas, não ficaremos paralisados.
Diz a velha Bíblia que o amor lança fora o medo. Pois que o amor lance fora o medo de imaginarmos a vida sem você. Que ele lance fora qualquer vontade que nos assalte de desistirmos do próximo passo. Que ele lance fora este pedaço da tristeza que nos devora agora.
Sabe Wande, só o ponto final dá sentido a uma frase. Só com o ponto final da sua partida para os braços do Todo Misericordioso é que a gente imediatamente foi tomando noção da grandeza que foi sua vida. Que vida plena você teve! Você não foi somente um artista do futebol. Sua vida foi uma obra de arte.
Você foi pai antes de gerar, com a Fla, o João e o Kiko. Você foi o meu pai quando o nosso pai não conseguiu dar conta desta difícil tarefa. Lembro-me de quando você me deu o primeiro violão com o salário que você ganhava no Operário de Campo Grande. Lembro-me de você me ensinando que, pra sentar na privada, é preciso abaixar o assento do vaso. Ensinando-me a escovar os dentes. Você foi pai sendo irmão. Tudo o que você ganhava com suor era pra sustentar nossa família, tão pobre quanto feliz. E até hoje você continua ajudando nossa mãe com o aluguel, com os remédios. O seu coração é do tamanho do mundo!
Você foi tão feliz com a Fla! Vocês viveram a plenitude do amor humano. Construíram um lar belíssimo. Geraram dois filhos que são seres de luz. Como você amou esses meninos! E como esse mesmo amor se espelha hoje no que eles são: responsáveis, amorosos, luzes onde quer que estejam, no que quer que façam. Sua arte juntou-se à da Fla e o resultado é essa família lindíssima. E temos certeza de que João e Kiko jamais deixarão de hastear essa bandeira de cuidado e amor.
Você foi amado pelos irmãos, tios, sobrinhos, cunhados, cunhadas, nora e netos. Amado por sua sogra, Dona Cecilia. Amado pelos amigos da bola e do Bola. Você foi um artista da hospitalidade e da amizade. Só com esse ponto final a gente começou a ter noção de tudo isso. Você é grande, mano! Por isso é grande a nossa dor. Ela tem a grandeza que foi a sua vida.
Negar a dor que nos assalta agora seria mentir contra o nosso coração. Mas não vamos ficar patinando na dor. Vamos superá-la no amor que temos por você. E como bem cantou Gilberto Gil, ‘há de surgir uma estrela no céu cada vez que você sorrir’. No dia de sua partida, o céu esteve estrelado com o seu sorriso no reencontro com a Fla e com o nosso pai. Havia muitas nuvens aqui em Juiz de Fora, mas, eu sei, as estrelas estavam por trás das nuvens, cintilantes, espelhando seu sorriso e sua risada tão linda.
Obrigado, mano, por essa obra de arte que foi sua vida. Enquanto a gente fica falando de amor, você viveu o amor. Enquanto a gente fica falando de Deus, você viveu Deus. Enquanto a gente fica fazendo teorias sobre como ser feliz, você foi feliz. Por tudo isso, você está e estará mais vivo do que nunca em cada um de nós.
P.S.: Fique despreocupado, cuidaremos bem da mãe. E os meninos, a depender da nossa família e da família da Fla, vão continuar brilhando, sempre.
Do seu irmão-filho, que aprendeu com você que é preciso tão pouco para ser feliz nesta vida.
Wanderlei nasceu em Sertanópolis (PR) e faleceu em Londrina (PR), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo irmão de Wanderlei, Edson Fernando de Almeida. Este tributo foi apurado por , editado por Marilza Ribeiro, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 29 de janeiro de 2021.