1965 - 2021
Durante os jogos do Bahia, nem conseguia assistir a partida toda, ficava mudando de canal por pura ansiedade.
Wellington era de Aracaju, mas vivia em Salvador desde que seu pai mudou para lá, por motivo de trabalho. Considerava-se baiano porque praticamente só nasceu em Aracaju, mas morou em Senhor do Bonfim, cidade do interior da Bahia, desde muito cedo. Suas lembranças de infância são dali e de Salvador onde passou a residir depois do divórcio dos pais. No bairro do Bonfim fez amigos para a vida toda, sempre dava um jeito de fugir para jogar futebol escondido com eles. As tradições que ele levou para a vida toda foram referentes ao interior, adorava forró e qualquer coisa que lembrasse festas juninas e o tão comemorado São João.
Foi casado com Sandra por 34 anos, numa relação que durou até seu falecimento. Conheceram-se em um aniversário através de um amigo em comum e, como marido, era muito companheiro e participativo. Gostava de cozinhar, fazer as tarefas de casa e pequenos reparos. Todos os sábados ia ao mercado fazer as compras da casa e, aos domingos de manhã, ele e a esposa saíam para passear com os cachorros.
Era pai de Rebecca e Manoella e, embora tivesse dificuldades de falar sobre seus sentimentos, suas atitudes já falavam por si só. Em determinados momentos de alegria em família, principalmente quando tomava sua cervejinha, ele conseguia expressá-los. Quando se tratava de educação e trabalho nunca mediu esforços para ajudar e estar presente. Fazia tudo pela família e deixou uma esposa e duas filhas loucamente apaixonadas por ele.
Amava todos os seus cachorros, em especial Dom, o caçula da família, que ele dizia que podia fazer tudo, até xixi nos lugares errados porque “o pai dele deixava”.
Era um homem de palavra e a definição de uma pessoa determinada, perseverante e resiliente que vivia basicamente para o trabalho e para a família. Adorava casa cheia e passar temporadas de verão junto dos seus, quando amava tomar sua cerveja e fazer churrasco para agradar a todos. "Tinha como hobby buscar receitas novas para cozinhar para nós aos finais de semana."
Corretor de seguros, sua empresa era seu maior sonho conquistado. Sempre quis empreender porque não queria “trabalhar mais para ninguém”, como dizia. Não conseguiu realizar esse sonho imediatamente, mas lutou com muito foco até conseguir abrir seu próprio negócio, depois de ter conciliado arduamente trabalho, sustento da família e o curso de corretor de seguros durante a noite. Foco, determinação e perseverança eram suas marcas no trabalho. Amava trabalhar! E era maravilhoso, competente, ético e muito realizado no que fazia. Era um vendedor nato e estava se tornando referência no setor em que tinha mais paixão, o de consórcios.
Sua determinação é relembrada pelas filhas: “Em um determinado momento, quando as coisas estavam muito difíceis, no começo da empresa, ele chamou todas nós pra conversar e disse que naquela situação as outras pessoas ficariam desesperadas, mas que ele, não. E agora, pensando nesse acontecimento, entendemos o que ele quis dizer: que pela determinação, foco e otimismo dele, ele não se desesperaria. Mesmo nos momentos mais conturbados da vida dele, sempre se manteve disponível para as necessidades e imprevistos da família”.
Nas horas vagas adorava testar receitas novas e fazer trabalhos manuais. Se tivesse um móvel pra montar, podia contar com ele. Também ajudava um abrigo de animais aos sábados, levando comida e dando banho nos bichinhos e, além disso dava atenção especial aos cães em situação de rua que encontrava no caminho do seu trabalho.
Um apaixonado por esportes em geral e torcedor encantado do Esporte Clube Bahia, foi homenageado com a bandeira e com o hino do seu time adorado no seu velório. Gostava de assistir futebol de qualquer time, mas quando o jogo era do Bahia, ele ficava tão nervoso que, muitas vezes, não conseguia assistir toda a partida, nestas situações ficava mudando de canal para se acalmar.
“Ele contava os dias para o próximo jogo do Bahia e assustava a casa inteira com os "gritos de gol", enquanto chutava o ar, como se estivesse chutando a bola. Não sabemos como começou essa paixão pelo Tricolor de Aço, mas desde que nos entendemos como gente, ele era completamente apaixonado pelo Bahia e por futebol. Inclusive, por saber dessa importância que o Bahia sempre teve pra ele, enquanto ele ainda estava internado, demos a atualização do time no campeonato que estava participando e, mesmo com a máscara de oxigênio, ele sorriu”, contam as filhas.
Ao tentar selecionar memórias marcantes, uma delas diz: “As lembranças que mais me marcaram foram as idas ao estádio de Pituaçu para assistir o Bahia ser campeão baiano em 2012. Fomos muitas vezes e estacionamos longe do estádio para não pagar estacionamento. Já minha irmã tem como marcante a disponibilidade dele sempre que tinha qualquer emergência com o carro, por mais ocupado que ele estivesse”.
E continuam falando sobre o pai de forma carinhosa: “Eu e minha irmã sempre lembramos do dia que ele deu o maior susto na gente e nos acabamos de rir com isso até hoje. Quando éramos adolescentes, tínhamos horário para usar o computador e esse tempo já havia passado, mas, na teimosia, nós fomos pegar uma mesa para levar pro andar de cima para usar o computador escondido. Meu pai apareceu do nada e pegou a gente no flagra, morremos de susto”.
Relembram hábitos e paixões que mais as fazem se recordar de Wellington:
“O hino do Bahia (claro!), me emociona sempre que toca, mas algumas músicas de forró também me fazem lembrar dele”.
“Sempre que vemos uma receita nova ou prato novo pensamos que ele tentaria fazer. As moquecas baianas, os yakissobas e os conchigliones que ele fazia no Natal são marcas registradas dele”.
“Épocas festivas fazem a gente lembrar muito dele porque sempre tentava tornar o dia especial, diferente dos outros dias do ano”.
“Outro hábito que ele tinha era já deixar as frutas cortadinhas e o pó de café já na cafeteira para minha mãe, pela manhã”.
Falando de sonhos do pai, destacam: “O maior sonho dele ele estava realizando, que era abrir a própria empresa. Além de se estabilizar e poder, finalmente, viver uma vida menos corrida em um local mais calmo, como um sítio, cheio de bichos”.
As filhas concluem a homenagem com gratidão, falando dos principais ensinamentos que receberam do pai: “A determinação e o foco, além da capacidade de adaptação e resolução dos problemas sem ferir o senso ético que ele sempre teve”.
Wellington nasceu em Aracaju (SE) e faleceu em Salvador (BA), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filhas e pela esposa de Wellington, Manoella Luna Barbosa, Rebecca Luna e Sandra Luna. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 16 de novembro de 2023.