Sobre o Inumeráveis

Whitney Suzine Aquino

1946 - 2020

Cativava qualquer pessoa para um papo mais longo, até mesmo nas ligações de telemarketing.

Filho de um cearense e uma italiana, Whitney era o primogênito entre cinco homens. Foi batizado com o nome de um companheiro norte-americano de seu pai, que atuou em combates na Segunda Guerra Mundial pela Força Expedicionária Brasileira - época mesma em que conheceu a esposa e formou uma família. Com apenas um ano de idade, o menino saiu de sua terra natal, o Ceará; anos depois, durante uma viagem com o filho, descobriu mais sobre seu lugar de origem: “Ele falava que tinha nascido no Sertão e só adulto foi ver que sua cidade ficava na Serra”, conta o filho, gracejando.

A alegria e a extroversão inundavam a personalidade do homem desde a juventude. Ele era daquelas pessoas que puxavam uma boa conversa com quem estivesse por perto e, com facilidade, ia a fundo na prosa. Seu jeito comunicativo e sociável o tornava uma figura conhecida na vizinhança da casa onde sempre morou, em Osasco (SP). Tanto que, não raras vezes, Whitney era convidado para participar de entrevistas, pesquisas e trabalhos de escola da meninada, e facilmente estava disposto a falar.

O isolamento social exigido pela pandemia o chateou, mas ele driblava a falta dos encontros presenciais alongando o papo com quem interagisse por telefone - inclusive com os atendentes de telemarketing. “Ele repetia nunca ter visto uma situação dessa e queria saber a opinião dos outros, daí perguntava ao pessoal das centrais de atendimento: ‘O que você está achando disso tudo? Como está sua rotina?’”, conta o filho Hugo, com humor.

O perfil desembaraçado e agregador também não escapava às suas relações de convivência familiar e com amigos. Na adolescência, era o organizador dos bailes e festas da sua turma, prática que depois adotou com os filhos. “Meu pai era muito participativo. Além de copiar para nós os filmes e discos de que mais gostávamos, promovia os bailinhos e organizava concursos com nossos amigos”, relembra Janaína. Ao fato ele unia o gosto pela música, explorado desde jovem, quando formou a banda de rock intitulada como “Os insuportáveis”. Amante de The Beatles e Elvis Presley, mesmo adulto ainda tocava violão e guitarra com os componentes do grupo musical de sua mocidade.

A faceta artística de Whitney extrapolava os sons e invadia as artes gráficas. Dono de farta habilidade manual e criatividade, abusou de seu talento e se realizou com o negócio próprio de uma serigrafia, depois de tentar a carreira bancária e outros trabalhos profissionais. Nas Copas do Mundo, seus desenhos e caricaturas de jogadores de futebol invadiam as ruas do bairro onde vivia, rodeados pela criançada, coloria-se o asfalto cinza. Gostava de cinema e se recordava das matinês infantis acompanhadas pelo pai, em que os filmes de faroeste o inspiravam a reproduzir as histórias em desenhos a mão. Apreciava a literatura e era frequentador de sebos, onde buscava as obras dos seus autores favoritos, como o colombiano Gabriel García Marquez. O hábito da leitura o tornou um homem culto, mesmo com toda a simplicidade que lhe era peculiar. Os livros o acompanhavam na rotina diária de aposentado, quando frequentava o Sesc Pinheiros, na capital paulista, para as braçadas matinais na piscina, seguidas de um almoço e da leitura repousante.

Ao lado da companheira de vida Amélia, paixão antiga de adolescente, a quem carinhosamente chamava de “Mé”, Whitney aproveitava os carinhos do único neto – Lucas –, seu xodó. Nos encontros de família, era o primeiro a chegar e o último a sair. São Paulino inveterado, não perdia as partidas do time e ainda se animava a bater bola com os irmãos, com quem sempre se juntava para um cafezinho nas tardes de sábado.

Whitney era do momento. Registrava todas as ocasiões em fotos e vídeos, que, além de ocupar um armário da casa, enchem os corações de toda a família de lembranças e saudades.

Whitney nasceu em Pernambuquinho (CE) e faleceu em Osasco (SP), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos filhos de Whitney, Janaína Tomé Aquino e Hugo Tomé Aquino. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Luana da Silva e moderado por Rayane Urani em 12 de novembro de 2021.