1952 - 2020
Amava o sítio onde tomava banho de igarapé, na água cristalina e mais gelada que se tem notícia.
WWF era seu apelido. Alguns também o chamavam de “Doutor”.
Dono de um extenso e respeitado currículo, seu nome marcou a trajetória acadêmica e política do Amazonas. Pós-doutor em Química na Bélgica, exerceu os cargos de Secretário Municipal e Estadual, Chefe de Gabinete enquanto Alfredo Nascimento foi Ministro dos Transportes, e foi também seu Secretário particular quando este tornou-se Senador e Deputado. Foi Superintendente da Administração das Hidrovias da Amazônia Ocidental. Por fim, aposentado como Pesquisador Titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e Professor Titular das Universidades do Estado do Amazonas (UEA) e Federal do Amazonas (UFAM).
"Doutor" estava sempre com a família e amigos. Amava o sítio que cuidou por mais de 25 anos. Lá, tomava banho de igarapé, na água cristalina e mais gelada que se tem notícia. Gostava de fazer churrasco e ver o jogo do Botafogo, seu time de coração.
Adorava comer e arriscava-se em experimentar as combinações de comidas mais improváveis. Também adorava repetir histórias e ficava chateado quando alguém falava que ele já havia contado. Ele dizia: “Eu quero contar de novo!”.
Agradecia a todos a todo momento pela mais minúscula coisa. Dizia “obrigado” por tudo!
Veio de uma família pobre, com outros quatro irmãos, e foi o único que estudou. Solidário, ajudava a todos. Era reconhecido pela lealdade aos amigos, humildade e competência. Não havia quem não gostasse e admirasse o “Doutor”.
Justamente por sua história, sempre quis dar uma vida boa e tranquila para suas filhas e netos. Alegre e carismático, foi um pai e avô extremamente amoroso. Era apaixonado pela espoa Esther, pelas filhas, Marcella e Rafaella e pelos netos João Pedro, Manuella (falecida com 3 aninhos), Maria Valentina e André Rafael.
“Meu pai é o meu grande amor”, diz a filha Marcella. O pai teve um papel preponderante em sua vida. Já mãe de João Pedro, Marcela teve Manuella, que nasceu com complicações de saúde. Seu casamento ruiu. Ao divorciar-se, “Doutor” passou a ser o pai de seus filhos. “Ele lutou comigo em todos os anos de vida da minha filha. Viajamos pelo Brasil em busca de um diagnóstico ou da cura para ela. Meu pai foi incansável e esteve comigo em todos os momentos”, conta ela. Aos três anos, a menina faleceu. “Se eu suportei a perda dela, foi porque ele estava comigo. Meu pai era a minha força”.
Ele próprio foi um guerreiro, tinha vencido uma pancreatite e retirado um câncer de próstata em 2019. Ao ser internado e entubado em decorrência da covid-19, na última videochamada que fez com a família da UTI, jogou beijinhos. “Os beijinhos foram as palavras mais lindas que ele conseguiu falar. Quero ser a metade do que ele foi na vida”, diz Marcella.
Wilson nasceu Rio Branco (AC) e faleceu Manaus (AM), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.
Jornalista desta história Ticiana Werneck, em 18 de maio de 2020.