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Francisca Tomé dos Santos

1940 - 2021

Acreditava que os anjos têm o poder de realizar sonhos, quando revelados em voz alta.

Francisca foi uma paraibana nascida no semiárido que gerou em seu ventre sete filhos e foi mãe de incontáveis filhos do coração, assim como Amadeu, que homenageia aqui sua eterna Teté com muito amor.

Semianalfabeta e batalhadora por demais, soube valorizar os estudos como ninguém e ensinou muito a todos que tiveram o prazer de dividir com ela um tempinho de sua jornada de pouco mais de oito décadas por aqui. "Ela foi minha primeira dentista, me ensinou os melhores valores que carrego comigo e era dona de uma verdade imensa. Para estimular meus sonhos, Teté dizia: 'Fale sobre eles que uma hora os anjos dizem amém'. Ela possuía o poder incrível de me fazer acreditar que tudo era possível", conta Amadeu.

Desde criança era muito trabalhadeira, primeiro foi a lida na roça e, depois que vieram os filhos. Agregou ao seu dia a dia mais algumas jornadas além da agrícola: passou a cuidar também dos pequenos e da casa. Foi sempre muito cuidadosa com a família, com o marido Solon e com os amigos. "Preocupava-se muito com os filhos que moravam fora e, além dos filhos de sangue, ajudou na minha criação e na dos filhos de outras amigas e familiares", relata Amadeu.

Seus maiores sonhos estavam relacionados aos filhos, netos, bisnetos e familiares. Tinha o desejo que todos estudassem e trabalhassem para vencer na vida. Empolgava-se como ninguém quando sabia da vitória de alguém que veio do mesmo lugar que ela: um sitiozinho na zona rural da cidade de Paulista, na Paraíba.

"Graças ao seu espírito muito jovem, vivi várias histórias engraçadas com ela. Teté gostava de conversar com todo mundo e criava situações embaraçosas com sua forma de falar as verdades na cara das pessoas, mas depois de passada a saia-justa, dávamos altas risadas", relembra o filho.

Das coisas que mais gostava, sem dúvida estavam suas plantas e animais de criação. Em seu quintal, cheio de árvores frutíferas, havia também ovelhas e muitas galinhas. Aos jovens que passavam em frente à sua casa, ela não dispensava uns dedos de prosa, fazia questão de brincar e contar piadinhas.

Outros hábitos que também eram sagrados para Francisca eram o terço ─ rezado diariamente antes de dormir ─ e a reunião de vizinhas em sua casa para o café da tarde. Ela amava quando conseguia juntar todas as vizinhas na cozinha.

Para Amadeu, apesar da dificuldade em saber lidar com a ausência de Teté, as histórias vividas e compartilhadas com ela serão para sempre lembradas com um carinho ainda maior que o coração do "amor da sua vida", sua mãe do coração.

Francisca nasceu em Paulista (PB) e faleceu em Pombal (PB), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de coração de Francisca, Amadeu Neto. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 29 de junho de 2021.