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George Berkeley Patiño

1941 - 2020

Dentista e cantor de boleros, George foi um embaixador informal e difusor da música latina no Rio nos anos 80 e 90.

Um boliviano-brasileiro-americano que viveu entre a ciência e as artes.

Nascido na Bolívia e naturalizado brasileiro e depois americano, George é um personagem rico com seus conflitos existenciais e sua busca ou fuga de si mesmo. Ao longo de seus 78 anos viveu em três países: Bolívia, Brasil e Estados Unidos, conquistando a nacionalidade em todos eles.

Em 1996, aos 55 anos, partiu rumo aos Estados Unidos para, como dizem, "fazer a América". Na bagagem levou o diploma de Odontologia conquistado na USP de Ribeirão Preto e o de Mestre em Saúde Pública pela Graduate School of Public Health da Universidade de Pittsburg, que data de sua primeira residência nos EUA nos anos 60. Além de suas partituras de boleros, gênero musical pelo qual era apaixonado, além de exímio conhecedor.

Nos lugares onde viveu, se integrou de modo muito estreito à comunidade e aos modus vivendis de cada localidade. Sempre foi uma pessoa muita cordata e que facilmente cativava e era cativado pelas amizades. Abria sua casa para receber imigrantes e artistas. Teve uma vida muito intensa e dinâmica.

Durante os anos 80 e meados dos 90, conciliou sua atividade como dentista e professor-assistente da Escola de Saúde Pública da Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz - com a de cantor de boleros e músicas folclóricas latinas por meio de apresentações de seu grupo “Los Latinoamerica-Nós”, composto por ele e pelos amigos estrangeiros e brasileiros, amantes da música latina cantada em espanhol.

Foi grande difusor do gênero bolero no Rio e muito atuante junto à comunidade latina na cidade. Foi também grande amigo de artistas brasileiros, como o cantor romântico Tito Madi, precursor da Bossa-Nova, falecido em 2018. A amizade foi herdada por seu filho, o jornalista George Patiño, que sobre Tito escreveu um perfil biográfico no ano de 2000 pela Livraria Toca do Vinícius, em Ipanema.

Socialmente pertenceu a muitos grupos. Desde a Maçonaria até o Rotary Club, passando pela American Society no Rio de Janeiro, e pelo grupo de teatro amador inglês The Players. Foi tenista amador da Associação Atlética Banco do Brasil – AABB Lagoa, fotógrafo amador e editor da Revista Brasileira de Odontologia. Foi um amador. Teve aulas de canto, percussão, violão e teclado.

No Rio de Janeiro dos anos 80 e 90, foi grande divulgador da música latina e do bolero. Junto com amigos estrangeiros e brasileiros fundou o grupo de boleros e músicas folclóricas “Los Latinoamérica-Nós”. Se apresentou com seu conjunto em festas, clubes, bares, eventos pátrios etc.

Patiño também era membro da American Society no Rio e atuou como ator em diversos musicais da Broadway, como “My Fair Lady”, “Guys and Dolls” e “The King and I” na British School, em Botafogo, encenados pela comunidade britânica no Rio. Foi ainda membro do Rotary Club – Laranjeiras, além de editor da Revista Brasileira de Odontologia e fotógrafo amador. Fluente nos idiomas português, inglês e espanhol, nos Estados Unidos atuou como tradutor, intérprete e professor de idiomas. Em 2009, com Oraldo Viegas, lançou o guia “Vivendo e dirigindo na América”.

Na vida pessoal, suas escolhas matrimoniais estão ligadas à sua profissão de origem: dentista. Conheceu sua primeira esposa, Rosalina, quando fazia estágio no Metropolitan Hospital de Nova Iorque, em 1969. Após um rápido namoro, vieram para o Brasil, onde se casaram em 1970. Sua segunda esposa, Rosa Cristina, ele conheceu no seu consultório em Copacabana, no ano de 1980, após sua separação. Do primeiro relacionamento, de 10 anos, teve dois filhos, George e Rafael. Do segundo, de 15 anos, uma filha, Giuliana. Depois vieram os netos: Clara e Francisco, de seu filho mais velho; Fernando, do filho do meio; e um bebê que sua filha caçula ainda teria.

Durante anos, Patiño teve um refúgio na cidade de Mendes, a 100 km do Rio de Janeiro, onde ficava sua “Finca” (sítio em espanhol) Sopocachi (bairro de seus pais na cidade de La Paz, Bolivia). Lá na finca também reunia os amigos para tardes e noites musicais, sem hora pra acabar. Ali fez sua festa de 50 anos em 1991.

Grande amigo de Patiño, o correspondente de imprensa estrangeira e primeiro oboísta da Orquestra Rio Camerata e ex-integrante das Orquestras do Theatro Municipal do Rio e da Sinfônica Brasileira, Harold Emert, sentiu muito a partida do parceiro: “Me lembro de seu entusiasmo e versatilidade com o mundo do show business. Em sua casa, no Flamengo, a porta estava sempre aberta para receber estrangeiros, fossem artistas ou não, de passagem pela cidade por estudo ou trabalho”, relembra Harold. Um desses amigos foi o violonista peruano Sérgio Valdeos, hoje músico consagrado no Brasil por sua atuação no quarteto Maogani e também em carreira solo.

Deixa três filhos: George, Rafael e Giuliana Patiño; três netos: Clara, Fernando e Francisco; além de mais um, de sua filha caçula, que ainda nasceria.

George nasceu em Potosi (Bolivia) e faleceu em Massachussets EUA, aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de George, George Berkeley Patino Junior. Este tributo foi apurado por Rogério Oliveira, editado por Rayane Urani, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 13 de julho de 2020.