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Gerson Pereira de Oliveira

1954 - 2020

Sua maior alegria era ir a praia com as filhas, aproveitar o sol, a brisa do mar e os momentos de alegria.

Sempre que podia, não importava o dia da semana, tomava seu banho de mar. Gerson teve o privilégio de viver boa parte da vida em Cabo de Santo Agostinho, uma região repleta de lindas praias de águas mornas, cristalinas e muito calmas, variando entre o azul e o verde.

Gostava muito de praia e aproveitava a ocasião para tomar uma cerveja gelada nos bares de seus amigos. Um deles era o Bar Asa Branca, na praia de Gaibu, do amigo Fla. As companhias preferidas eram as filhas, que também amam ir à praia.

O relacionamento entre Gerson e Berenice, sua esposa, era de muito amor. Quando Berenice ficava adoentada, Gerson logo se preocupava, e não saía do lado da esposa. Cuidava de tudo para que ela se recuperasse logo e os dois pudessem seguir a vida de casados que perdurou por quase cinco décadas. Gostava demais do tempero de dona Berenice que, com zelo e carinho, preparava pescadas, sarapatel (prato típico nordestino à base de miúdo de porco e sangue coalhado), rabada, feijoada... A cozinha da casa era sempre alegre. Na hora das refeições, aproveitavam para conversar.

Ótimo pai, estava sempre atento ao crescimento e às demandas de Ana Flávia, Rosângela e Elisângela. Muito prestativo, não se recusava a sair para pagar contas, comprar pão... “Ele fazia o que a gente precisasse, era como um office-boy”, conta a filha Elisângela.

Entre seus afazeres, o preferido era levar os netos Adriewerton, Larissa e Adrielly para a escola. Nutria um carinho especial pelas crianças e, quando nasceu Adriewerton, o mais velho, foi uma alegria enorme ─ Gerson sempre quis ter um filho homem. Junto com dona Berenice, praticamente criaram o primeiro neto, que passou a morar com eles.

Elisângela tem boas recordações. De todos os momentos compartilhados com o pai, o dia do seu casamento foi o mais feliz, e ela relembra: "Ele estava lá, presente na solenidade do casamento comunitário. Foi muito especial ele poder estar lá comigo naquele momento e também depois, no jantar em que pudemos reunir a família".

Houve mais momentos especiais entre pai e filha, mas Elisângela pontua os cafés aos domingos com Gerson. "Como morávamos perto, mesmo depois de casada ele me chamava para o café, preparava a bebida e juntos a gente se sentava para tomar e conversar. São lembranças boas que nunca esquecerei.”

Torcedor do Tricolor de Pernambuco, o Santa Cruz FC, após se aposentar como padeiro, Gerson montou uma barraca onde vendia cervejas e tira-gostos. E, é nesse cenário que adquiriu o gosto pelo jogo de dominó. Enquanto tocava seu negócio, aproveitava para jogar uma partidinha com os amigos ─ Geno, Dada e Preto eram os que mais frequentavam a barraca e jogavam com ele. "Durante as partidas, ele ia colocando tampinhas de cerveja nos bolsos das pessoas. Assim, depois de algum tempo, ficavam todos com os bolsos cheios. Era muito divertido, os amigos ficavam arretados", conta sorrindo a filha.

A barraca do seu Gerson era um dos lugares mais animados da rua, tanto que chegaram a acontecer torneios de dominó por lá. Os prêmios eram: grades de cerveja, refrigerantes, jogos de dominó...

Com a partida do amigo, a barraca foi fechada e os companheiros de dominó mudaram de hábito: agora se reúnem para jogar baralho e relembrar os torneios, as brincadeiras e as risadas. É bem possível que sintam até falta de, ao final, voltarem para casa sem as tampinhas em seus bolsos.

Elisângela conclui sua homenagem definindo, em uma única frase, o que o pai representa para ela: “meu exemplo de vida”.

Gerson nasceu em Jurema (PE) e faleceu em Cabo de Santo Agostinho (PE), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Gerson, Elisângela da Silva de Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ernesto Marques, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2021.