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Israel Pereira de Souza Filho

1954 - 2021

Tinha orgulho em torcer e patrocinar o São Paulo Futebol Clube, do São João do Cariri, seu time coração .

Morador de Serra Branca, no Estado da Paraíba, Israel Pereira (o Rael da Cagepa, como gostava de ser chamado) era sinônimo de alegria, doação, companheirismo e amor. Dono de um coração gigante, tal qual um coração de mãe, sempre arranjava espaço para acolher os familiares e os amigos.

"Um paizão", assim o consideravam os seus cinco filhos. Com todo eles, Rael tinha uma sintonia fina. Sempre atento, bastava um olhar para saber se alguma coisa não estava indo muito bem e logo se colocava à disposição para escutá-los e ajudá-los no que fosse necessário. Aos filhos sempre pedia mais conselhos do que dava. Como revela Mathyas, seu filho caçula do segundo casamento, ele representava o “equilíbrio perfeito entre o saber falar e o silenciar. Seu jeito de nos olhar já dizia tudo: se era bronca ou afago”.

Ao invés de falar, ele vivia o amor e ligava ou mandava mensagens todas as manhãs para os filhos. E, quando juntos, adorava beijá-los e tinha mania de “falar pegando”. O amor à família era tão grande, mas tão grande, que lhe faltavam palavras para descrever, tal como a canção “Como é grande o meu amor por você”, uma das suas músicas prediletas, imortalizada pelo seu ídolo Roberto Carlos.

Ensinou a todos que ajudar a quem precisa é uma obrigação. Como bem lembra Tainá, sua primeira neta, “sempre altruísta, vô Rael colocava todos e a família antes de si. Muito atencioso, carinhoso, zeloso e amoroso. Queria sempre saber como todos estavam e se preocupava com tudo para saber em que podia ajudar”.

Rael da Cagepa, era devoto de Nossa Senhora dos Milagres. Todos os anos renovava a sua fé na festa em comemoração à Mãe dos Milagres, realizada em São João do Cariri, cidade que possui em torno de 4.500 habitantes e que acolhe entre 20 e 40 mil peregrinos de todo o Cariri paraibano para a procissão em homenagem à Santa.

Torcia para o Botafogo e, como lembra seu neto Yan, “foi vovô que nos ensinou a ser um torcedor apaixonado por esse time. Eu e meu pai devemos isso a ele”. Se orgulhava em ser patrocinador e “torcedor doente” do São Paulo Futebol Clube, time da sua terra natal. Na companhia dos filhos, vibrava muito nas partidas em que o time do coração entrava em campo. Eram domingos especiais.

Nas viagens para São João do Cariri, seu filho Wendel ocupava sempre o posto de condutor, pois Rael era daqueles que “comprava os melhores e mais equipados carros”, mas nunca arranjava tempo para tirar a habilitação”, lembra o filho mais velho.

A Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) foi o seu segundo lar e onde construiu uma trajetória inspiradora ao longo de trinta anos, coordenando inúmeras agências no interior do Estado. Mesmo aposentado, seu espírito de servir estava sempre à disposição da empresa, da qual se orgulhava em ser parte e, como o complemento do seu apelido mostra, foi naturalmente adicionado à sua identidade. “Era nítida a sua paixão pela Cagepa. Rael era pura garra e energia no trabalho. Dedicado e eficiente, nunca mediu esforços para fazer sempre o melhor”, relata José Augusto, genro, amigo e líder na Cagepa.

Galgany, sua filha mais velha, lembra que o “dono dos cabelos mais pretos que existiam, talvez pela herança dos familiares negros e indígenas, era muito vaidoso e andava sempre de unhas bem feitas”. Recorda ainda que o homem que mais encorajava os filhos a superarem desafios, era também o que mais temia injeções. Dentre tantas memórias, Galgany resgata uma da infância de quando, tarde da noite, era por ele acordada para comer carne de sol e a melhor farofa d'água do mundo.

Rael era um homem de espírito jovem, esperançoso e cheio de alegria mesmo nos momentos mais difíceis. Cantar era sua infalível arma contra o tédio. Cantava “ruim de doer”, tinha plena consciência disso, mas era assim que arrancava as gargalhadas mais gostosas de quem estivesse ao seu redor.

Cada pessoa que conviveu com o Rael carrega em si um pedacinho da alegria que ele sempre fez questão de transbordar. Ele se tornou a estrela que mais brilha no céu do Cariri paraibano e a quem Laura, sua netinha, pede a benção todas as noites antes de dormir. É de lá do alto, que segue abençoando sua família e segue vivo nos corações e mentes que conseguiu tocar ao longo da sua existência.

Israel nasceu em São João do Cariri (PB) e faleceu em São João do Cariri (PB), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Israel, Gema Galgany Cordeiro de Sousa. Este texto foi apurado e escrito por Fabrício Nascimento da Cruz, revisado por Tatiani Baldo e moderado por Rayane Urani em 8 de junho de 2021.