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Manoel José de Queiroz

1939 - 2020

Um coração verdadeiro, guerreiro que sempre desejou a felicidade a todos.

Manoel José e sua esposa, Maria José, formaram uma linda família, com os filhos Marcos Antônio, Marília, Maria de Lourdes, Márcia e Maricélia.

Trabalhador rural, tinha uma lida dura, mas era com muito amor que ia para a roça... Normalmente debaixo de sol escaldante e alguns poucos dias de chuva, mas ele nunca faltava. Conta a filha Marília que ele tinha uma mão abençoada e, o que quer que plantasse, era colheita certa e farta.

Marília tem muitas lembranças de acompanhar o pai no trabalho: "Eu ia tão feliz com ele! Era costume me colocar em cima da carrocinha de mão e ir empurrando. Um dia ele fazia café com fogo improvisado em "pauzinhos de marmeleiro" e pediu que eu tomasse conta para não subir e apagar o fogo. Mas eu era muito desligada e me distraí com umas lagartas pretas enormes... Pronto! O café subiu e o fogo apagou. Se ele brigou comigo? Que nada! Deu foi umas boas risadas, e eu prometi que não aconteceria de novo".

Esse e outros momentos, como ficarem abrigados na casa dos padrinhos dela até a chuva passar na volta da roça, Marília não esquece, e confessa que viveu os melhores momentos de criança ao lado de seu pai.

"Seu Manoel" gostava de contar histórias, contos, que por vezes assustavam as pessoas. Como, por exemplo, quando brincava dizendo ser Saddam Hussein. Fora esses momentos, era um homem que prezava a verdade acima de qualquer coisa e assim ensinou aos filhos.

Com os netos, era um amor de avô e generoso. Quando se despedia da família, sempre tinha um dinheiro escondido para dar aos netinhos. Era seu segredo, mas mesmo assim todos viam o gesto carinhoso.

"Em janeiro último comemoramos o aniversário dele. Fiz um bolo e consegui reunir filhos e netos. Ele estava feliz. Notava-se que gostou muito e lhe fez um bem enorme. Quando todos se foram, parece que ele já sentia que chegava o momento de uma despedida.

Logo em seguida adoeceu, foi internado e realizou vários procedimentos. Mas, apesar de ter sido muito forte, ainda debilitado, teve alta e voltou para casa. Foi a oportunidade de despedir-se de sua amada companheira na noite que passou em casa, e ainda teve a companhia de sobrinho, netos e alguns filhos. Arrependeu-se de seus pecados e foi grato a todos que o acompanharam na vida. Mas voltou a sentir-se mal e descansou enfim", relata ainda com muito pesar Marília.

Manoel sempre foi um homem simples, do campo, e ele mesmo se dizia bravo. Mas era por gostar de suas coisas do seu jeito. A família tem muito orgulho de sua história, personalidade e do legado de honra que deixou. Sentem ainda muito sua falta em casa, mas acreditam que ele está sereno e vai divertir bastante pelo caminho onde passar.

Para resumir esse saudoso pai, esposo, avô... uma mão abençoada, uma história baseada em verdade, colheitas fartas e, por fim, as palavras que ele sempre repetia aos seus: "Sejam felizes". Essa receita é do "Seu Manoel", que será amado pela eternidade!

Manoel nasceu em Carnaiba (PE) e faleceu em Carnaiba (PE), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos filhos de Manoel, Marcos Antonio de Queiroz, Marília Tenório de Queiroz, Márcia e Maricélia. Este texto foi apurado e escrito por Denise Pereira, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 1 de setembro de 2020.