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Maria Helena de Albuquerque Cabral

1948 - 2020

Na tradicional festa junina da família, dançava forró como uma boa nordestina.

A infância não oferecia nenhuma esperança para que a menina Maria Helena prosperasse. O quintal de casa era o ambiente de trabalho dos pais, funcionários de uma indústria açucareira. Seu destino e dos 17 irmãos era ficar por ali, à espera da idade certa para também começarem a lida. O trabalho, como extensão da casa, era a realidade de 80 famílias que, além da rotina na indústria, dividiam suas histórias.

A dificuldade fez de Maria Helena uma mulher sensível, sempre atenta ao primeiro sinal de necessidade. Helena, como era chamada, sabia dos males do sofrer. Por isso, dedicou-se a minimizar as dores daqueles que estavam por perto. “Quem doa, sempre recebe em dobro” — esse era seu lema.

Católica dedicada, junto aos amigos da Capela da Vila Castelo Branco, participava todo fim de mês da “Campanha do Kilo”. A missão: ir de porta em porta, no centro de Goiana, para arrecadar alimentos que seriam doados a quem precisava. A participação ativa e intensa de Helena era o maior orgulho da família.

Além do olhar sensível às faltas do próximo, o tempo que passou na usina também ofereceu a Helena um capítulo importante na sua trajetória: conhecer o amor, chamado José de Sousa Cabral. Os frutos da união são: Marta, João, Suzana, Sérgio, Marcos e Sandro. Os filhos multiplicaram o amor em muitos netos. A casa cheia era convite para o momento mais esperado da família: a festa junina. “Toda família se reunia para dançar forró. Ela adorava. Comportava-se como uma verdadeira nordestina!”, lembra o sobrinho Pedro. Dos quitutes, o mais esperado era o bolo salgado — que só de falar, deixa qualquer um da família com a boca cheia d’água.

Helena ofereceu sua existência para ajudar o próximo. Não à toa, era a escolhida para representar a mãe de Jesus nas peças da Paixão de Cristo. Era o momento em que ela sentia-se completa. No palco, diante da família e dos amigos, vivia a expressão da sua missão: era, enfim, Maria Helena. Só assim se fazia completa. Hoje, a família tem uma certeza: Maria Helena é uma rosa que está sendo cultivada no jardim eterno de Deus.

Maria nasceu em Goiana (PE) e faleceu em Goiana (PE), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de Maria, Pedro Ferreira de Albertim. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Carolina Margiotte Grohmann, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 18 de agosto de 2020.