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Marina Romeira da Silva Oliveira

1942 - 2020

Passava as tardes ouvindo louvores em seu aparelho de som.

Marina se casou muito jovem com Afonso, e tiveram treze filhos: Juarez, Mironilde, Dalvo, Djalma, Durval, Abias, Daniel, Mirandinha, Ezequiel, Mizael, Mivanilde, Mivondina e Oziel.

Ela era uma mulher forte, determinada, até autoritária; e ele, um homem muito bom e paciente. Assim, os dois se davam bem, eram o ponto de equilíbrio um do outro. A relação com os filhos era boa; os mais velhos foram saindo de casa e conviveram pouco com os mais novos, mas sempre ligavam, visitavam os pais ou eram visitados por eles.

Ela trabalhou muito desde a infância na roça, ajudando os pais, numa vida dura e sofrida, mas entremeada, certamente, por momentos felizes. Isso deve ter contribuído para que ela tivesse dificuldade em demonstrar seus sentimentos, mas, mesmo assim, era muito amada pelos filhos, e estes sabiam que ela os amava.

Não teve tempo para estudar quando pequena, e foram seus filhos que lhe ensinaram a escrever seu nome e a ler algumas palavras. Batalhadora, ensinou os filhos também a serem aguerridos e honestos e, como evangélica, os criou de acordo com os ditames do Evangelho.

Não há como dela não se lembrar quando se ouve o cantor evangélico Marcos Antônio, que ela tanto amava, pois era assim que Marina passava seu tempo livre, escutando as músicas da igreja, se balançando numa rede, fazendo seu crochê ou tecendo outras redes.

Amava as festas de família, durante as quais ficavam todos reunidos conversando, principalmente, sobre o passado, e aproveitando a ocasião para explicar aos mais novos o quanto sua vida poderia ter sido sofrida se tivessem nascido em tempos mais remotos.

Ela vivia muitas alegrias em família, como conta a filha mais nova, Mivondina. “Eu me lembro da formatura do meu pai em Teologia, pois ela entrou ao lado dele na hora de receber o diploma. Nesse dia, ela estava linda e muito feliz”.

No seu último aniversário, quando comemorou seus 77 anos, teve uma bela festa organizada por Mivondina, que se sentiu muito gratificada por ter conseguido reunir todos os filhos, irmãos e cunhados de Marina que moravam na cidade, e até uma boa parte de seus amigos da Igreja. Todos a homenagearam, deixando-a muito emocionada.

Estar próxima dos netos era outra coisa que a deixava feliz, e eles todos a chamavam carinhosamente de mãezinha. Quando Marina ficou viúva, dois deles estiveram mais próximos para cuidá-la. Um deles viveu com ela durante seis anos, até que se mudou para fazer a faculdade. Duas de suas filhas ficaram com ela, já comprometida pela doença de Alzheimer.

Ela vivia também uma relação especial com o irmão caçula Deusdete, que era muito importante para ela. Os dois eram muito unidos e gostavam de conversar, sorrir e viajar. Ele até morou com ela por um tempo.

Marina deixou o grande legado de ter conseguido criar os treze filhos todos honestos, trabalhadores e seguidores do Evangelho, deixando sua coragem e fé como suas maiores marcas.

Ela ficou na história da família como a pessoa mais especial, a melhor mãe, avó, amiga e companheira que já existiu.

Marina nasceu em Paulo Ramos (MA) e faleceu em Paulo Ramos (MA), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Marina, Mivondina de Oliveira Santos. Este tributo foi apurado por Giovana da Silva Menas Mühl, editado por Vera Dias, revisado por Elias Lascoski e moderado por Rayane Urani em 21 de novembro de 2021.