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Marlene José da Silva

1951 - 2020

Cozinheira por profissão e paixão, estava sempre fazendo alguma coisa, pois não gostava de ficar parada.

Pense numa mulher forte e admirável. Pensou? Nas palavras da neta Ana Carolina, essa era Lena, ou melhor, "vozinha" com ela mesmo definiu que gostaria de ser chamada.

Lena foi mãe de Otoniel Nemias, Ana Paula e Mauro Clovis e tinha muito orgulho de ter criado sua amada família sozinha e construído sua casa sem pedir nada a ninguém, apenas com seu próprio suor. Trabalhou como cozinheira e ficou por vinte e quatro anos em uma mesma casa, compartilhando seu tempero.

Mais que profissão, para Lena, cozinhar era um gesto de amor. Ana Carolina conta que a vó sempre dizia "espera, vou fazer alguma coisa pra gente comer". Esse gosto pelo preparo dos alimentos foi passado para Pedro Henrique, irmão de Ana Carolina, que aprendeu a cozinhar com a avó e se tornou companheiro nas idas à feira. Os dois tinham uma relação muito próxima não só por compartilharem receitas, mas porque viviam juntos. Ele, inclusive, tinha um jeito só seu de se referir à avó: "Marla".

Ficar com os netos era uma das atividades favoritas dessa vozinha e, tinha com eles, assim como com os filhos, uma relação maravilhosa. Mas não pense você que Lena era uma avó quietinha, pelo contrário! Não gostava de ficar parada e estava sempre fazendo algo, dedicando boa parte de seu tempo a cuidar do quintal. O resultado se vê na forma de um pé de manga, um pé de abacate, quatro pés de acerola e um coqueiro.

Lena também levava jeito para cuidar de animais e tinha como companhia uma gata e algumas cachorras, pelas quais acordava às 5 horas da manhã para levá-las para passear. Também era boa com as pessoas e tinha a generosidade como uma de suas características. Ana Carolina conta que, certa vez, um rapaz estava fazendo obra na casa onde Lena trabalhava e que ele chegava todos os dias com comida azeda em sua marmita. Ao descobrir que o rapaz estava sem geladeira em casa, Lena não pensou duas vezes e o presenteou com uma das geladeiras que possuía.

Não é sem motivo que a família e os amigos sentem tanto orgulho. Lena era uma mulher batalhadora e muito resiliente. Seus feitos são e devem seguir sendo assunto nos encontros entre os filhos e netos que a consideram "muito especial mesmo" por tudo que foi e conquistou.

Lena também era querida por ser uma pessoa muito animada e acolhedora. Fez tudo o que pôde pela família ─ seu maior tesouro ─, pelos outros e também por si. Ana Carolina lembra que a avó "dizia que era muito feliz, que fez tudo o que quis" e, assim partiu, sem arrependimentos e deixando muitas histórias eternizadas na memória dos seus.

Marlene nasceu em Vitória de Santo Antão (PE) e faleceu em Paulista (PE), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Marlene, Ana Carolina. Este tributo foi apurado por Denise Pereira, editado por Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 14 de novembro de 2020.