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Nauzira Soares da Silva

1940 - 2020

Educadora querida na sua cidade. Colheu belos frutos da sua paixão pela educação e pela leitura.

Este texto foi escrito por Maria Emília, filha de Nauzira:

Uma mulher forte e independente. A terceira de 15 irmãos, filhos de Dona Emília e do Senhor José Lourenço. Era apaixonada pelos irmãos e se orgulhava em dizer que eram muito unidos.

Ela era professora e adorava ouvir as histórias de quando começava cada ano letivo. As mães todas queriam ter a minha mãe como educadora dos seus filhos, pois foi uma grande alfabetizadora, tanto de crianças como de jovens e adultos. Sendo assim, transformou a vida de muitas pessoas. Dona Nau, como a chamavam, era uma educadora exigente, e com ela aprendiam muito.

Durante a infância dos seus cinco filhos, vivia cada momento intensamente. As festas juninas das crianças e o Natal na escola marcaram também nossas vidas em casa. Depois da aposentadoria, continuou fazendo as festas em sua rua. No Natal, todos os vizinhos, os conhecidos e os garis ganhavam presentes, que ela cuidadosamente embrulhava um a um.

Na infância, vivi em um ambiente de amor. Minha cantiga de ninar era dormir ouvindo meus pais conversando. Quanta atenção recíproca entre eles! Ela era sábia e não permitia que os problemas, que com certeza eles tinham, atrapalhassem aquela convivência amorosa. Amenizava os conflitos, sempre em nossa defesa.

Cresci olhando para ela como meu modelo de mulher, meu abrigo, minha amiga, minha defensora. Tinha um amor incondicional, sem medidas por seus filhos e, por isso, muitas vezes, não era compreendida. Os filhos já eram adultos, mas para ela eram suas eternas crianças e adolescentes. Insistia em viver e sofrer pelos problemas de cada um deles. Coisas de mãe…

Era brincalhona e extrovertida e sua alegria era contagiante, principalmente quando ela caminhava pelas ruas da cidadezinha onde nós morávamos, no interior pernambucano. Lá todos a conheciam, e ela distribuía sorrisos e conversas. Sempre muito amiga de todos, aceitava as pessoas como eram e não gostava de intrigas. Na rua da minha infância, vi, muitas vezes, principalmente com os vizinhos que ocupavam a casa ao lado, a sua sensibilidade de ajudar quando precisavam, pois era muito caridosa e empática.

Gratidão é o que sinto neste momento. A Deus, por ter me dado uma mãe tão atenciosa e dedicada e que me ensinou a ser o que eu sou hoje, deu-me uma educação primorosa. Era rígida e não aceitava nenhum desvio de conduta. Os filhos de professora sabem o que é isso! Temos a impressão de que conosco a coisa é mais rigorosa. Deixou nos filhos o amor pela educação. Ela foi uma inspiração e um modelo para nós de dedicação e de amor ao ensino.

Minha mãe era muito carinhosa, dedicada e super protetora, muito amorosa, e sempre estava disponível para as pessoas que precisassem dela. Ela gostava muito de rezar, principalmente pelos filhos. E, dessa forma, ela também nos ensinou a amar muito o Senhor. Assim, ela construiu em nós os valores de respeito, de responsabilidade e honestidade. Minha mãe foi um grande exemplo. Vou amar a senhora para sempre, minha querida "mainha!"

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Este outro texto foi escrito a partir das palavras de Eliane Soares, também filha de Nauzira:

Nauzira foi uma professora aposentada que exerceu sua profissão com muita dedicação. Ela apreciava muito ler, era nos momentos de leitura que ela se sentia realizada e tranquila. Emprestava seus livros a quem lhe pedisse.

Durante o ano, ela comprava presentes para doar no Natal a todos os vizinhos, amigos e parentes, pois esta data era muito especial para ela. Era alegre e carismática, sempre ajudava quem a procurasse e era conhecida por todos no município onde morava.

Dona Nau, como também era chamada entre os amigos, foi casada por quarenta e oito anos com Severino Lucas, com o qual teve cinco filhos que foram criados com muito amor. Ela foi uma mãe e uma esposa exemplar!

Nauzira nasceu em Juripiranga (PB) e faleceu em Ferreiros (PE), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas filhas de Nauzira, Maria Emília Soares e Eliane Soares. Este texto foi apurado e escrito por Gabriela Pacheco Lemos dos Santos, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 6 de maio de 2021.