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Rafael do Carmo Araújo

1983 - 2021

O Boi-Bumbá era sua grande paixão. Compositor do Boi Garantido, ouvia toadas até nas farras com amigos

A vida de Rafael foi uma ode à cultura de sua terra. Adotou o sobrenome artístico Marupiara, palavra que vem da língua dos povos Munduruku, nome de um ritual que transforma menino em guerreiro após passar por sete desafios.

Era compositor do Boi Garantido e escrevia com maestria, emplacou diversas toadas de sucesso e canções do Boi-Bumbá na categoria Rituais e Lendas. Karajá foi a toada de estreia no CD "O Povo das Águas". Juma, Couro dos Espíritos, Fera de Fogo e Matawi-Kukenan foram as principais. O amigo e compositor do Boi Garantido, Guto Kawakami de Oliveira, conta que a amizade dos dois surgiu por admiração mútua quando se encontraram nas festas culturais do estado. A rivalidade nunca foi empecilho para um forte vínculo, pois a amizade e o apreço pelo talento um do outro eram muito maiores.

"Era um poeta, um exímio compositor que trouxe muitas alegrias e fez a nação vermelha e branca 'bruxulear'", assegura Guto.

Maru, como era chamado pelos amigos, curtia uma farra. E advinha qual era o ritmo que dava o tom dos encontros? Toadas ouvidas nos festivais de Parintins. A companheira, Deisy, era fanática pelo Boi Garantido. Segundo o amigo Guto, o casal estava sempre junto e feliz.

Rafael também tinha alguns hábitos peculiares, era colecionador de action figures de personagens de filmes, séries e super-heróis. Em sua casa, havia um quarto cheio de bonecos.

Marupiara dividia o trabalho de compositor com o de professor de Geografia, profissão na qual também se destacava. A mão estendida ao próximo também era uma característica sua.

"Era autêntico crítico da política em nosso país, entusiasta de projetos ambientais. Era bom amigo, apaziguador, sempre tranquilo e irreverente. Um cara solidário que, sempre que possível, fazia questão de ajudar o próximo em toda e qualquer situação", acrescenta o amigo Guto.

Filho de dona Marilene e seu Lindolfo, irmão do Guigui, da Luciana e da Vivian, dividia com a companheira Deisy os cuidados com as filhas pets Sissa e Maggie.

“Um dia a gente ainda vai se encontrar, um sorriso, um abraço apertado ao som da toada e uma gelada pra espantar essa dor, amigo Marupiara”, despede-se Guto.

Rafael nasceu em Manaus (MA) e faleceu em Manaus (MA), aos 37 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo amigo de Rafael, Guto Kawakami de Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de julho de 2021.