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Rosilene Quitéria

1959 - 2020

Enchia a casa de risadas quando chegava, chorava quando se despedia e nunca teve dificuldade de dizer: "te amo".

Dona Rosa, a Rosilene, começou a trabalhar ainda menina, aos 14 anos, e lutou até se aposentar. O último trabalho foi de merendeira escolar. Ela amava esse ofício e todos da escola a amavam também.

As coisas não eram fáceis, apesar de ela fazer tudo parecer leve.

A alegria andava com Rosilene. Com uma gargalhada deliciosa, era impossível não se contagiar pelo riso dessa senhora. Era sempre a mais engraçada de qualquer lugar.

Rosa adorava visitar os familiares. Eles moravam longe dela, era preciso um metrô e um ônibus para chegar, mas lá, todos viviam em casas próximas. Assim, com uma viagem, dava para ver os sobrinhos-netos Rayssa, Ravel, Francisco e Marcelo, as sobrinhas Klebia e Márcia. Nessas visitas, também ficava perto do pai, Manoel, e das irmãs, Graça, Jane e Teresa.

Para não fazer desfeita, almoçava um pouco na casa do pai e depois corria para a casa de Jane, pois amava a comida que ela fazia.

Também era uma cozinheira de mão-cheia. O prato de domingo sempre era galinha caipira. Preparava as melhores refeições quando recebia as pessoas em sua casa. Mas, como visitante, dizia: "Vocês que têm que cozinhar pra mim".

Assim como o riso, o choro de despedida era marcante. Dona Rosa sempre se emocionava a ponto de verter lágrimas quando se despedia dos parentes, onde passava de uma a duas semanas. O sobrinho-neto, Ravel, conta que a casa ficava até mais vazia quando ela ia embora, pois, se Rosa estava, ouvia-se muitas gargalhas e aconteciam diversas brincadeiras.

Ela era uma tia-avó tão legal que até os amigos de Ravel, jovens, eram apaixonados por ela.

Dona Rosa tinha algo especial com aromas. Ravel conta que quando ela chegava, os dois se cheiravam. A expressão "um xêro" era literal para os dois. E ela era perfumada que só. Fã do cantor Leonardo, brincava que se "pegasse ele" iria cheirá-lo todo. Falava que casaria com Leonardo se o sertanejo quisesse. "Oh, homem bonito!", dizia.

Andava com anéis, brincos e o batom vermelho era sempre o escolhido para as festas da família.

"Eu te amo" também era uma frase comum para dona Rosa. Ela não encontrava dificuldade nenhuma em dizer o que sentia por aqueles que eram especiais.

Brincalhona, tinha alma de menina e uma mente sempre aberta ao novo. Vivia em harmonia com o companheiro Raimundo. Fazia o que fosse preciso pela felicidade dos filhos Matheus e Mônica, além do netinho Caio Arthur, os maiores amores de sua vida.

Da última vez que visitou a família, conversaram com ela sobre a necessidade de ficar em casa. Rosa chorou muito, porém disse que voltaria quando tudo passasse e prometeu comprar uma pizza para o sobrinho-neto Ravel. Um dia antes de ir para o hospital, prometeu um festão, pois dona Rosa não via outro jeito de viver a não ser celebrando tudo com alegria.

Rosilene nasceu em Barras (PI) e faleceu em Timon (MA), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho-neto de Rosilene, Ravel Gomes dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 12 de outubro de 2020.