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Vânia Cristina da Silva

1965 - 2020

Sempre de salto, foi uma mãe incrível, que soube se divertir. Deixou luz e empatia na linha de frente da pandemia.

Coordenadora de epidemiologia há mais de vinte anos na Secretaria de Saúde do Município de Altinho, essa grande profissional lutou na linha de frente durante a pandemia. Tentou barrar a Covid-19, mas o vírus foi mais forte que ela.

Seus pais também foram infectados. Seu pai, José Quirino, partiu uma semana após a filha. Sua mãe, Edite, recuperou-se da doença, mas não ainda da perda da filha e do esposo.

Vânia, conhecida como Vânia da Secretaria de Saúde, sempre foi dedicada e responsável. Empenhou vinte e cinco anos de sua vida pensando no bem coletivo com muita empatia e deixa um grande legado.

Mas, antes de tudo isso, Vânia era filha, mãe e tia. Além de irmã de Vilma, Vaneide e Josileide. Das quatro, Vânia era a primogênita e tinha uma relação mais próxima com a caçula, Josileide.

Teve duas filhas e cuidou das meninas sozinha e com todo amor. Letícia conta a vida ao lado da mãe: "Eu e Vitória, minha irmã caçula, fomos criadas por uma mulher que, como mãe solo, batalhou muito. Às vezes, passava mais tempo no trabalho do que em casa. Foi pai e mãe ao mesmo tempo, nunca nos faltou amor e fazia muito bem todos os papéis que lhe cabiam, sem medir esforços para nos ver sorrir."

Vânia amava sair com as amigas, beber uns drinks e dançar um forró. Gostava daqueles das antigas, tipo Magníficos e Jorge de Altinho. Sabia como ninguém se divertir e viver a vida da melhor forma.

Letícia ainda lembra que a mãe adorava viajar em família. "Tinha imenso prazer em curtir o mar. Então, toda vez que a viagem era para a praia, minha mãe ficava no mar até o finzinho. Sempre a última a sair da água, a chamávamos de peixe."

Vaidosa demais, andava sempre muito bem-arrumada e, dificilmente, sem um batom. No trabalho a elogiavam como a mais chique do local. E nunca saía de casa sem um salto. Chegava a ser uma referência dela. Inclusive para shows... Vânia era a "tia do rolê". Como gostava muito de sair, levava as filhas e as amigas das filhas, que iam junto, pois as mães confiavam estando na presença dela. "Um belo dia fomos ao show do Xand, do Aviões do Forró, e não é que minha mãe, tentando chegar mais perto do palco, perdeu o salto do sapato lá?! O registro ficou em vídeo, mas, divertida, adorava contar a história pra todo mundo", entrega a filha.

Em casa, a cozinha era seu lugar favorito. Era oficialmente a cozinheira da família, tinha uma boa mão e dominava a arte do improviso. Sua especialidade era uma torta de banana deliciosa. Quando chegava visita, já perguntava logo pela torta. Vânia era, como se diz em culinária, "boa de boca", ou seja, não tinha uma comida preferida e apreciava de tudo um pouco, mas camarão, definitivamente, ela não gostava.

Letícia se despede da mãe com o coração partido de saudade e afirma: "Minha mãe foi uma mulher incrível e só pensava em ajudar o próximo. Hoje procuro defeitos e não consigo encontrar. Tinha apenas mania de limpeza, o que chega a ser bom, principalmente diante do aprendizado vivenciado com a chegada da pandemia. Ela deu a vida pelo trabalho e tenho muito orgulho de quem ela foi, da luz que deixou por onde passou. Sua memória e seu sorriso ficarão eternizados. Espero que Deus possa acalmar o coração de cada família que perdeu alguém nesse momento difícil."

Vânia nasceu em Altinho (PE) e faleceu em Altinho (PE), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Vânia, Letícia Stefania Silva Moura. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Phydia de Athayde em 4 de janeiro de 2021.