1949 - 2020
Para as coisas boas sempre repetia a seguinte expressão: "Ô glória".
Homem ativo e forte, dizia que era como uma rocha. Ao longo da vida passou por várias profissões: foi vigilante, inspetor de segurança, proprietário de transportadora e motorista. Nascido na fé, como se diz no jargão evangélico, tornou-se pastor de uma igreja evangélica e ficou conhecido como o Pastor Adão. Estava sempre disposto a ajudar os outros. Fazia cultos em diversos locais, até nos mais difíceis de se chegar. Era um grande leitor da Bíblia e também de outros livros. Sempre dizia que pregaria o Evangelho até o seu último suspiro — e assim o fez.
Em seu último dia de vida aconteceu algo que Cátia, sua primogênita, não consegue esquecer: “Eu consegui ver meu pai antes de ele falecer; dos filhos, só faltava eu. Perguntei ao enfermeiro se ele podia ouvir. Meu pai fez graça na UTI, pregou o Evangelho lá, então o enfermeiro disse: 'Não posso duvidar de nada, com a fé do seu pai e a sua, quem sou eu pra falar que seu pai não vai te ouvir?' Ele estava inconsciente, entubado. Eles me paramentaram e eu entrei. Conversei com ele, orei por ele. Saiu uma lágrima do olho do meu pai. Então, tenho certeza que ele me ouviu.”, recorda Cátia, emocionada.
Nas horas livres Adão gostava muito de sentar-se à mesa e jogar conversa fora, junto com um bom café da tarde. Apreciava muito comer e comia de tudo.
Casou-se uma única vez, com Ruti Galdino Soares e teve três filhos: Cátia, Carlos Eduardo e Adriano, nessa ordem. Na infância dos filhos levava a família para a praia, em Santos. Faziam um "farofão", brincavam e passavam por poucas e boas. Viveu com intensidade, pois a felicidade era sua regra de vida.
Apaixonado pela família, e um bom amigo para todos! Um ótimo ouvinte, para todos os tipos de problemas. Muitos tinham uma relação de pai e filho com ele, mesmo não sendo de sangue. Amava demais os netos, mimava, se divertia com eles e os influenciou a torcerem pelo mesmo time que o seu: o Corinthians.
Depois de aposentado ficou pastoreando e fazia isso com muito prazer — era muito responsável nessa missão. Suas orações e sua mãos curaram muita gente. Ajudava todo mundo, fazendo tudo o que podia pra isso.
Aos 60 anos foi estudar Direito e mesmo não tendo concluído o curso, correu atrás e deu exemplo a todos os que acham que a idade limita, de alguma forma, os sonhos de alguém.
Adão foi honesto, altruísta e valorizou sua família. Era vaidoso e estiloso. Gostava de contar anedotas e a mais famosa é a de quando dizia que seu pai tinha uma fazenda no sertão do Piauí que era tão grande, tão grande, que quando a vaca paria o bezerro de um lado da fazenda, ele chegava do outro já como boi. Isso era motivo de muitas risadas. Essa história é apenas uma forma de lembrar de Adão com um sorriso no rosto.
Adão nasceu em Cubatão (SP) e faleceu em Itapecerica da Serra (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Adão, Cátia Cristina Soares dos Reis. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ozaias da Silva Rodrigues, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2022.