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Abel da Cruz Neto

1959 - 2020

Criava chavões a cada oportunidade, cuidando do bem-estar alheio, que era sua especialidade.

Foi atendente, auxiliar e técnico de enfermagem, por 30 anos, na mesma instituição — o Grupo Hospital Conceição de Porto Alegre.

Muito querido por todos, sua perda gerou comoção entre os colegas, e como porta-voz de todos que conviveram com ele, a escritora Helena lhe diz:

"Querido Abel, se puderes olha pra nós
Estamos aqui reunidos para te falar.
Somos os colegas que ouviam tua voz
E apelidos que pra sempre vão marcar
Somos a Narizinho, a Zóio, a Orelhinha,
Muito pra baixo, tristes e sentidas.
A Com, a Sem, a Seca e a Linguinha,
Sem entender a vida, pensativas.
A dor da perda estamos a sentir
10h, 11h, 12h, 13h! Fui..... era hora de sair!
E o ritual de saída, lava mão, lava braço
Como se instrumentar fosse ir!
Mas antes de sair, passava álcool e hidratante
Nas mãos, rosto e sem esquecer da careca
Viveu o amor verdadeiro por 15 anos constantes.
Entre trabalho e família, equilíbrio aconselhava
As férias e horas livres, com os seus aproveitava.
Na devoção a São Jorge, a sua fé alimentou
Vitimado pelo covid, não se sabe onde pegou!
Lamentamos esta perda e o vazio que deixou!
No setor da Hemodinâmica, 20 anos dedicados
Na lembrança dos colegas, ficará sempre guardado!
Tinha chavões que criava a cada oportunidade
Dizia que dava jeito à colega que incomodava
- Só uma semaninha e eu a endireitava!
Trabalhou toda manhã, o chavão é quase lei
- Vai dormir a tarde inteira que eu sei!
Mania de celular, sempre alguém repara
- Não larga esse telefone, não dá atenção pro cara!
Visitou a manicure, com certeza então arrasa
- Unha bem feita, não lava uma louça em casa!
Chegando fim de semana, por todos tão esperada
- Gente hoje sextou, pra tomar uma gelada!
E foi bem na sexta feira, perto do raiar do dia
A vida o abandonou e nosso amigo partia!
Da doença para a paz e das trevas para a luz
Deixou família e amigos para morar com Jesus!
Querido colega Abel, receba o nosso carinho
Sabemos que onde estás, jamais ficarás sozinho!
Para melhor nos sentir, estamos em oração
E o tamanho da saudade é igual ao teu coração!
Fica em paz, Abelhudo!"

(Escrito por Helena Polanczyk Barasuol, professora e escritora na cidade de Quaraí)

Abel nasceu em Bagé (RS) e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela colega de trabalho de Abel, Joice Evaldt. Este tributo foi apurado por Millena Gama, editado por Alessandra Capella Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de junho de 2020.