1949 - 2020
Sem perder de vista a sua filha, a essa altura está fazendo o que mais gostava: andando por aí...
Um ser único pela sua simplicidade e verdadeira mania de agradar a todos. Assim, a filha única, Nathália, da união de trinta anos com Nelma, define o pai.
O contador, já aposentado, era conhecido como Nem, forma carinhosa como sempre foi chamado por seu tio. Um grande sonho para esse amante da roça, era aposentar-se e comprar um pedacinho de terra. Mas o cantinho sossegado e tão desejado não chegou.
Foi apaixonado pela família e pela filha. Pela tal ordem natural da vida e outros acasos, seus pais e único irmão já partiram. Mas Nem tinha uma alegria de ser que o transformava em uma pessoa querida por todos. Amigo, carismático e prestativo, sua companhia era sempre muito valiosa.
Nathália complementa com testemunhos apaixonados: "Ele era isso: amor, companheirismo, presença... um ser que Deus enviou pra linda tarefa de ser meu pai. E caprichou, quando escolheu dar a mim o melhor pai do mundo!"
Nem era fanático pelo Atlético Mineiro. Sua companhia em todos os jogos era a filha, mas não necessariamente isso era só diversão. A companhia era o melhor, pois, no fundo, o que os unia eram a reciprocidade no amor e o prazer pelo esporte. Porém, a bola rolava no campo e a briga nos bastidores. Por quê? Nathália é cruzeirense!
Mas as brigas, claro que não de verdade, não param por aí. A 'Criola', como o pai chamava carinhosamente Nathália, lembra com alegria: "Meu pai amava uma viola caipira e uma sanfona. Era dia e noite escutando 'modão gaúcho' no celular bem alto. Não tinha como não ter reclamação! E ri mais ainda lembrando de como ele gostava de irritá-la, com sua mania de andar assobiando. Nossa, isso me dava um ódio! Ele sabia e assobiava tudo que era música, e bem alto."
Suas horas livres eram preenchidas com uma prática que adorava: sair sem rumo. Era bem desse jeitinho que lhe dava prazer... Sair, como se diz, 'por aí e parar onde desse na telha'. De repente, onde conhecia alguém ficava, numa padaria, casa de amigo...
E com isso, segundo a filha, se ele quisesse se candidatar a algum cargo político, ganharia fácil. Afinal, toda a cidade o conhecia e com uma visão bem positiva.
Quem adoeceu com sua partida foi Belinha, a fiel companheira. Uma pinscher apaixonada por seu amigo, a quem seguia para todo canto e agora anda triste. Mesmo com sua lealdade, nem Belinha conseguia comer a comida de Nem, "que era ruim pilotando o fogão", como conta Nathália.
A filha descreve, com saudade, uma das muitas histórias gravadas na memória: "Tive um pai que comprava diariamente, no fim do expediente, um salgado pra trazer pra 'sua Criola'. Coisas que ficam guardadas como uma doce lembrança. Já suas últimas palavras, essas foram tristes. Meu pai falou que se não cuidasse dele, não amanheceria vivo. Ele deixa uma saudade imensa, não só em mim, mas em todos que o conheceram e, apesar da dor, isso é um orgulho."
Adailton nasceu em Patos de Minas (MG) e faleceu em Patos de Minas (MG), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Adailton, Nathalia Caetano. Este tributo foi apurado por Denise Pereira, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de novembro de 2020.