1936 - 2020
Na carreira militar ou em meio aos seus livros e desenhos, uma genialidade que deixa exemplos a serem seguidos.
Nascido em um pequeno e pobre município do Estado do Piauí, foi com os pais, Seu Ângelo e Dona Francisca, mais os doze irmãos, em lombo de jumentos, fazerem vida nova em Teresina.
No final da década de 50, Ademar entrou para o Colégio Militar, de onde seguiu para a AMAN ─ Academia Militar das Agulhas Negras ─, onde se destacou. Dos treze filhos, foi o único que escolheu seguir carreira militar e, sempre que voltava a Teresina, a família fazia uma festa.
Casou com Regina Stella, vinda também de família de militares, em dezembro de 1961 e com ela teve os filhos: Antônio, Augusto, Amilcar e Ana Cristina.
É Amilcar quem traz memórias desse pai a quem define como um exemplo de integridade e de rara inteligência. "Desde que eu era bem novo, meu pai foi um grande parceiro e alguém em quem me espelhava. Foi ele quem me ensinou xadrez, incentivou no tênis e proporcionou uma educação de qualidade. Sem mencionar os momentos mais difíceis, quando nunca estive sozinho e contei com sua ajuda."
Quando jovem, foi um excelente jogador de futebol de salão. Suas outras paixões eram também a literatura, o desenho e o estudo do cérebro humano. Sua biblioteca chegou a ter mais de 1000 livros, quase 100 só do tema "cérebro humano".
Desenhista nato, era ambidestro e escrevia poesias divinamente, chegou a publicar um livro. Conta ainda o filho que, quando seu irmão Antônio, o Tonico, faleceu em um acidente em 2003, seu pai ficou muito abalado. O que não o impediu de reunir forças e escrever um livro em homenagem ao filho que partira cedo demais.
Como militar de carreira, Seu Ademar era muito respeitado por sua conduta e comando. Quando se aposentou das Forças Armadas, como Coronel de Infantaria, trabalhou na Secretaria de Segurança Pública, como diretor da Academia de Polícia. "Mas papai tinha o hábito de não se calar diante de algo errado que cruzasse seu caminho. Por isso, sua carreira não foi muito longa", relata Amilcar.
Sempre muito compromissado com o que fazia, resolveu estudar e dar aulas de Leitura Dinâmica e Memorização, escrevendo inclusive outro livro, o qual não chegou a publicar. Seu Ademar teve muito êxito através de seus alunos também, que saíam-se muito bem em concursos públicos, exatamente usando as técnicas criadas e aprendidas em seu curso.
O filho relembra com amor uma história sempre contada em família, principalmente por seu tio Paulo, que narrava com um orgulho imenso do irmão mais velho, a história do incêndio em um prédio, que ficou famoso, quando Ademar era ainda jovem. Antes da chegada dos bombeiros, ele entrou no local em chamas, ajudando a retirar as pessoas que lá estavam, salvando vidas, apesar de arriscar a sua própria.
"Papai sempre se alimentou muito bem, inclusive durante os dez anos em que combateu o Alzheimer. Era apaixonado por uma picanha com aquela gordurinha. Um grande homem e nossa referência, que terá nosso eterno apreço por tudo que foi e fez por todos", despede-se Amilcar.
Uma pessoa espirituosa, divertida, de bem com a vida e que dizia que chegaria aos 100 anos! Infelizmente, a Covid-19 não deixou. Foi contaminado dentro de seu quarto, de onde só saía para tomar banho, por conta da impossibilidade de caminhar sozinho. Agora caminha muito bem acompanhado de sua eterna companheira.
Para ver o tributo de sua esposa, que também faleceu durante a pandemia, procure por Regina Stella França Pessoa no Memorial Inumeráveis.
Ademar nasceu em Prata do Piauí (PI) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Ademar, Amílcar Célio França Pessoa. Este tributo foi apurado por Denise Pereira, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 27 de dezembro de 2020.