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Ademir Cunha dos Santos

1947 - 2021

Pescaria e o time do coração completavam a felicidade de quem nasceu para ser o grande Capitão Gancho.

Capitão Gancho. Assim era chamado esse “ser incrível!”, diz a neta Vitória. “Simples e honesto por natureza, não lhe faltava amor para dar”, continua ela.

Ademir foi professor, diretor de escola, teve escritório de contabilidade e trabalhou nas finanças da Prefeitura. Tinha disposição de sobra e não reclamava de nada. Um trabalhador incansável.

Pescar era uma paixão. O Internacional era a outra. “Se tinha uma pescaria ou seu time do coração estava ganhando, já bastava para ele ficar feliz”, conta Vitória.

A saudade é imensa e o amor da esposa, das filhas, dos netos e dos amigos habitará sempre o lado esquerdo do peito, onde palpita toda vida e seus afetos. Vitória despede-se deixando uma carta para seu amado Capitão Gancho.

"Meu amado avô,

Essa carta não é em tom de despedida e tristeza, jamais tu gostarias de me ver assim. Eu perdi mais que um avô, perdi um pai amado, carinhoso e abnegado que cumpriu plenamente o seu papel na Terra com muita humildade, simplicidade e amor.

Vim por meio desta apenas te agradecer por tudo! Como sempre foste um amante da pescaria, desde muito pequena te pedia para ir a uma pescaria e isso nunca tinha acontecido. Então, o destino me presenteou com uma rica pescaria logo na última semana que estivemos juntos.

Jamais imaginaríamos que aquela semana seria a nossa despedida. E que rica despedida com direito a carteado, conversas e companheirismo!

Sempre soube que a nossa ligação era muito forte, mas por incrível que pareça conseguimos fortalecer ainda mais. Enfim, como eu te disse aquele dia: tenho muito orgulho de ti! Tu foste o melhor paciente que eu tive na vida. Tu lutaste muito e fizeste tudo que podias. Estarás sempre comigo. Não é à toa que eu carrego a tua assinatura em forma de tatuagem no meu corpo.

Gostaria de agradecer pelo carinho e pelas lindas palavras que tenho recebido, que confortam o meu coração. É lindo de ver o quanto tu foste importante na vida de tanta gente querida.

Vai em paz meu véio, descansa. Te amo."

Ademir nasceu em Pedro Osório (RS) e faleceu em Pedro Osório (RS), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Ademir, Vitória dos Santos Alam. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Míriam Ramalho, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 26 de abril de 2021.